domingo, 21 de outubro de 2012

a maré

Não me lembro do mar nem de nada parecido guardado na retina minha da minha míope vista 
Não que no passado fosse míope 
Mas o mar se vê longe de perto ou de longe e de longe vejo mal 
mas eu veria o mar num só azul de movimento calmo e azul 
Veria 
se me lembrasse do mar ou de tudo parecido que estivesse guardado perto de mim 
Mas no meu passado eu via bem de longe mas nunca enxergava longe 

a história 
Não me lembro de na minha história haver o mar nem de nada que não fosse parecido com a tela de um desenho no asfalto 
toda minha história mergulhada na imensidão urbana 

o que eu disse 
como se o mar não tivesse ondas (ainda que pequenas e, se paradas águas são, sempre há quem jogue uma pedra, provocando o andar de ondas)
eu não tinha memória
Não me lembro do mar mas me lembro de ter me afogado em milhares de pesadelos marítimos

é possível sentir conhecer algo sem ao menos vê-lo há tanto tempo?

quando vi o mar, quase vinte anos depois da primeira e única vez, era como se fosse a visão de uma deusa das águas. a potência da natureza multiplicada por aquele sussurro violento e calmo... infinito e belo
como se fosse a própria alma do mar
a mar é


sábado, 20 de outubro de 2012

louca

lua louca sorridente e luminosa
lua
tua única saída 
em nós um véu
e branca túnica

toda nua a lua 
uma dança apruma
pros teus olhos únicos

uma lua - ilha - 
pura lua - uma filha -
me atua(liza rá)

numas de nosso o teu brilhar
somos um pacto de enluarar
teu rosto cheio míngua linda
nova e cresce e brilha tua

essa uma 
lua
e tua língua
me conta que você enrubesce
quando linda se vê nua
nua no ar

domingo, 14 de outubro de 2012

o discreto e sua existência insípida


nada ao redor
um imenso vazio 
povoado por gente
o homem invisível é discreto 
porque não olha nos olhos dos outros
porque evita cumprimentos
esquiva-se de bons dias, tardes e noites
recusa convites para sair
e quando a gente se acostuma com isso
ele torna-se oficialmente invisível
sua especialidade é desaparecer

mas algo mudou
ele quer visibilidade
arma seu desvario
crivado de dores vazias
um eco cravado na pele da terra

ouve o rugido atravessado pelos rios 
e marca no pescoço a força desse grito insano 
teus olhos sombrios avisam
não há onde se encostar
deixa o rosto repousado no colo frio
(de quem?)

sua discrição é tamanha
que até no choro
chora sem lágrima

gota que alimenta ou machuca
essa gota desaparece no tempo
numa era de esquecimento

é a curva que desfaz a cratera do pensamento

sábado, 13 de outubro de 2012

de olho no relógio ou nos olhos do tempo


na segurança da vaidade
navegar de manhã 
não quer dizer vir antes do anoitecer

me espera levantar
a máscara não pode cair
o medo avança quando você chove tormentos em mim
e se desespera pra dançar

Só você pode me atingir

Em um minuto de muitos anos
a eternidade congela nossa boca
(você não pode esconder)

seu corpo dança e cansa e dança
essa dança mansa ora força
ou moça estonteante raça
e vem avança e ultrapassa o medo
e se lança longe e longe e longe e longe...

(nada pode nos atingir assim)

sim
houve o tempo
desfrutamos

então
ouve o tempo
amamos desfrutar a tempo

detestamos 
não haver tempo

mas ele houve 
sempre ouve



edição de imagens

antes do frio, uma gota gelada de realidade cai na testa do imbecil adormecido

abre os olhos

vê tudo em alta resolução, velocidade 350, pessoas viram manchas rápidas
riscos que se cruzam em pinceladas vorazes na tela da cidade cinza

fecha os olhos

ouve o rugido das pisadas, murmúrios e sussurros da cidade grande
gritos surdos em sonatas públicas, em praças privadas e calçadas estreitas

abre a boca

fala que o mundo é redondo, mas as pessoas preferem quadrados e retângulos
não entende a geometria do movimento aleatório da humanidade

fecha a boca

destempera o som de sua própria voz, veículo inútil de comunicação
dedos e teclados falam mais e melhor do que a boca, a língua e a garganta

respira fundo

seu sonho é encontrar o botão do rewind  e do forward nas pessoas
seria a renovação dos marionetes... basta usar um controle remoto

e depois do frio, uma gota quente de suor escorre em direção a boca do idiota acordado

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A voz de Malala


A jovem Malala Yousufzai não está mais em estado grave num hospital em peshawar, no paquistão. Ela está na Inglaterra. Os médicos retiraram uma bala que estava alojada em seu ombro. Uma outra bala já havia sido retirada de sua cabeça.
O assunto está nas ruas de cabul. E também nas manchetes dos jornais.

É a história de Malala Yousufzai . Ela se tornou conhecida em 2009, aos 12 anos. Malala mantinha o blog 'diário de uma estudante paquistanesa'. Os depoimentos ainda podem ser lidos em inglês, no site da bbc.
Na época, Malala comentava os impactos das medidas do talibã (não vou escrever talibã com letra maiúscula) na comunidade. O grupo terrorista havia fechado mais de 150 escolas para meninas e tinha explodido outras cinco na região do vale de Swat.

O clima era tenso e havia a ameaça constante de que as escolas de meninas pudessem ser alvo de ataques do talibã. Malala escrevia que muitas de suas colegas tinham se mudado para cidades maiores, como Lahore, Peshawar e Rawalpindi.

"Esta escola não pertence somente a mim", disse malala, "esta escola pertence às crianças que lutam por seus direitos. E isso prova que o povo do Paquistão quer a paz".

Malala tem hoje 14 anos. Ela foi baleada quando saía dessa mesma escola que defende com tanta paixão. "Minha mensagem é para as pessoas que se deparam com a tirania. Sempre que você vir alguém sendo oprimida, levante sua voz. Grite contra quem tenta tirar seu direito. Não tenha medo de ninguém".

Malala não teve medo. E vai precisar de mais coragem. O talibã declarou que se a jovem se salvar do ataque, vai tentar matá-la de novo. Na opinião do talibã, a lei islâmica é clara. Se qualquer mulher tiver algum papel na guerra contra os militantes, essa mulher tem de ser morta.

Malala está influenciando as jovens estudantes. Tamana Jan é uma delas. Tamana se diz preocupada com seu país, o Paquistão, mas também com a situação do Afeganistão. Lá, a discriminação com a mulher é ainda pior. Tamana diz temer quando as forças estrangeiras forem embora do Afeganistão. Eu temo pelo futuro das meninas, diz a estudante paquistanesa. 

Horia Mosadiq trabalha na anistia internacional. Ela conta que o que viveu, seus filhos estão vivendo. "Me preocupa ver um país que permite suas mulheres serem atacadas por ácido, granadas, envenenamento, ou que se permita que levem tiros na cabeça", diz Horia. 

Orações pela jovem Malala Yousufzai  m Karachi. Centenas de mulheres rezam pela recuperação da estudante e ativista.
Protestos em Islamabad e Lahore. Mulheres paquistanesas marcharam pelas ruas, pedindo mais segurança e liberdade para todas as mulheres do país. 

Até mesmo para a realidade sangrenta e cruel do Paquistão, o crime contra Malala provocou fúria no país. Se os talibãs queriam calar as mulheres, conseguiram o efeito contrário.

****atualização: Malala Yousufzai esteve internada em um hospital de Birmingham. Teve perceptível melhora, mas ainda manifestou sintomas de infecção. Malala contará sua história e a de 61 milhões de crianças que não podem estudar. Seu livro será publicado em 2013, com o título ''I am Malala''.
Em 19 de março, Malala teve seu primeiro dia de aula em Birmingham, no centro da Inglaterra.
"Acho que voltar para a escola é o momento mais feliz da minha vida. Era com isso que sonhava, com todas as crianças tendo o direito de ir à escola." "Estou muito feliz de usar esse uniforme, porque ele prova que sou uma estudante e estou vivendo a minha vida e aprendendo." Malala disse também que está ansiosa para aprender sobre política e legislação.