domingo, 14 de outubro de 2012

o discreto e sua existência insípida


nada ao redor
um imenso vazio 
povoado por gente
o homem invisível é discreto 
porque não olha nos olhos dos outros
porque evita cumprimentos
esquiva-se de bons dias, tardes e noites
recusa convites para sair
e quando a gente se acostuma com isso
ele torna-se oficialmente invisível
sua especialidade é desaparecer

mas algo mudou
ele quer visibilidade
arma seu desvario
crivado de dores vazias
um eco cravado na pele da terra

ouve o rugido atravessado pelos rios 
e marca no pescoço a força desse grito insano 
teus olhos sombrios avisam
não há onde se encostar
deixa o rosto repousado no colo frio
(de quem?)

sua discrição é tamanha
que até no choro
chora sem lágrima

gota que alimenta ou machuca
essa gota desaparece no tempo
numa era de esquecimento

é a curva que desfaz a cratera do pensamento

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