quinta-feira, 29 de novembro de 2012

algumas frases de joelmir beting (singela homenagem)


 vulgarizei a informação econômica. fui chamado nos meios acadêmicos enciumados de ‘chacrinha da economia’.

o problema é que modernizar não é sofisticar. é simplificar.

em economia, é fácil explicar o passado. mais fácil ainda é predizer o futuro. e difícil é entender o presente.

a gestão da economia tem apenas dois problemas. quando as políticas fracassam e quando as medidas funcionam.

não há soluções políticas para problemas econômicos.
as bolsas de valores, como os aviões, são cem por cento seguras: todo avião que sobe, desce.

no brasil, fomos dopados pela cultura da abundância. irmã siamesa da cultura da ineficiência, da acomodação e da tolerância. responsável pelo nosso atávico desperdício de terra, de água, de mata, de energia, de sossego e de gente.

e no final das contas, você só consegue explicar aquilo que entendeu.

por exemplo: quando os preços sobem, é inflação, quando descem, é promoção.

mas explicar a emoção de ser palmeirense a um palmeirense é totalmente desnecessário. e a quem não é palmeirense... é simplesmente impossível.

tão difícil quanto conviver com seis calendários no mundo de hoje. o gregoriano ou cristão. o judaico, o islâmico, o japonês, o chinês e o calendário do futebol brasileiro.

é simples: se não podemos melhorar o que causa a febre, pelo menos temos de melhorar a qualidade do termômetro.

metade da humanidade passa fome. a outra metade faz regime.

é isso. a natureza não se defende. ela se vinga.

quando eu morrer, por favor, não façam um minuto de silêncio. façam um minuto de barulho. 

**** ((sempre fui fã de joelmir beting, como outros jornalistas também são. mas no meu caso, eu curtia suas tiradas, sua simplicidade nesse mundo estranho da economia. ironia e sarcasmo elegantes são para poucos privilegiados que têm o talento e a perspicácia de usá-los bem))

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

jornalistas, grécia, emprego e bolinhas de papel


o desemprego na grécia registra 25%. mais do que o dobro da média da zona do euro. um grupo de jornalistas decidiu tomar o assunto em suas mãos. e os profissionais de imprensa resolveram criar empregos para eles próprios.
alguns jornalistas desempregados não fizeram como parte da categoria, que entrou em greve durante vários dias. são manifestantes que querem a readmissão de dois apresentadores que foram exonerados por terem criticado um ministro por supostas torturas policiais a militantes anarquistas.

os desempregados de que falo são outros. e preferiram o caminho da solução independente. em vez de marchar pelas ruas, em protestos contra medidas de austeridade do governo, este grupo de jornalistas resolveu fazer algo que desse resultado imediato para eles.

tornaram-se editores de um jornal novo, que fez sua estreia em atenas há algumas semanas. o novo jornal,  efimerida ton sintakton - o jornal dos editores, em grego - é controlado e gerido por jornalistas.
principalmente por aqueles que trabalhavam num dos jornais mais vendidos da grécia, o eleftherotypia, ou, liberdade de imprensa, em grego. jornal que fechou e deixou 850 funcionários sem emprego. um terço deles, jornalistas.

nikolas voulelis, diretor do periódico, disse que o projeto começou justamente pelos antigos funcionários do “liberdade de imprensa". um jornal que passou por uma crise terrível e fechou. eles criaram uma cooperativa, contribuíram do próprio bolso e começaram esta iniciativa de fazer outro tipo de jornal. 

a editora de saúde, danny vergou, falou ter trabalhado nos últimos 15 anos para o liberdade de imprensa. ficou um ano desempregada com o fechamento dele. "eu sou mãe solteira, minha filha tem cinco anos. eu precisava trabalhar. também é muito importante ser livre como jornalista e não ter nenhum interesse por trás do que você escreve", explica danny.

 o editor internacional, nikolas zirganos concorda. para ele o mais importante é ser independente. é a primeira vez que algo assim é feito na grécia.
"eu vou comprá-lo", disse o ateniense gerasimos moskopoulos. "quero ver a diferença de cobertura jornalística com eles".

agora, no jornal dos editores, são mais de 130 jornalistas do antigo periódico trabalhando neste novo. cada um contribuiu com mil euros para iniciar o negócio. 
a liberdade de imprensa, como se sabe - mas não se espalha - é, invariavelmente, uma liberdade de empresas de famílias. 
são feudos de mídia. 
e quando surge algo como esse da grécia, mesmo que por necessidade, há que se elogiar. e uma coisa é certa: uma bolinha de papel será tratada como bolinha de papel, não como um atentado terrorista.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

republicanos fazem mea culpa?


os republicanos gastaram muito dinheiro, até mais do que os democratas. chegaram perto de vencer o presidente barack obama. mas perderam. e desde as eleições de 6 de novembro, os conservadores americanos não param de se perguntar: quem é o culpado pela derrota?

mitt romney não ajudou muito. foram muitos erros. 
tanto em seus discursos, em que mostrava convicções duvidosas, oportunistas às vezes. também seus inúmeros “foras”. mitt romney foi uma avalanche de constrangimentos diplomáticos.

e mesmo assim, podia ter vencido. mas desperdiçou uma oportunidade de ouro. toda a hierarquia republicana criou um consenso de que mitt romney matou a chance de o partido retomar o poder nos estados unidos.

erros por erros, talvez não seja ele somente o culpado. afinal, o ex-presidente george w. bush conseguiu se reeleger, mesmo sendo tão desastrado quanto romney. de fato, era até mais. não custa lembrar que w. bush foi criticado por ter problemas com álcool. por ter invadido o iraque com um motivo falso. por não conhecer nada da geografia e geopolítica internacional. já foi ridicularizado diversas vezes pela mídia por ser, digamos, um bobalhão. mas se elegeu numa votação polêmica (com acusações de fraude, vejam vocês, nos eua!!), e se reelegeu na esteira do medo americano coletivo em relação ao terrorismo.

já mitt romney, um pouco menos desastrado do que w. bush, e com mais dinheiro do que seu companheiro de partido, não conseguiu superar obama. para os analistas, dentro do próprio partido republicano, faltou neste caso carisma.

algo que não se encontra num republicano desde a eleição de ronald reagan. o ex-ator e ex-presidente americano sempre foi o ícone dos republicanos, do conservadorismo político dos estados unidos. ele é o kennedy da direita americana.

a inexpressividade de mitt romney, e a falta de convicções concretas do ex-governador de Massachusetts não convenceram, e perderam para o carisma de barack obama. por causa dessa derrota nas urnas, os republicanos estão pensando também se mitt romney seria o único culpado.

o partido acredita que é melhor repensar seus candidatos, suas convicções. buscar, quem sabe, um novo reagan. alguém que represente, outra vez, a famosa frase: o estado é o problema, não a solução.

mas enquanto os republicanos não sabem se voltam ao passado, ou se rompem com ele, os democratas curtem o poder com seu líder atual, o representante da nova era: barack obama.  

os republicanos estão vivendo fora da realidade. mas como há quase metade dos americanos que acredita neles, não sei se sou eu, ou se metade dos estados unidos está fora da realidade. enfim, não é só no brasil que a direita conservadora precisa rever seus conceitos. enquanto isso, a esquerda, ou o que mais se aproxime disso, se aproveita e continua no poder. por enquanto, a ideia de que o estado não é o problema continua prevalecendo. 
a crise econômica mundial está aí para comprovar.

a guerrilheira "colombiana" tanja nijmeijer


o problema da terra na colômbia, país onde 1,15% da população têm 52% da propriedade rural, será a primeira prova de fogo para o governo e as farc, em sua tentativa de paz. uma holandesa metida na guerrilha chama a atenção da imprensa mundial. ela participa das negociações.
o tema fundiário é um assunto que está na raiz do conflito, que já dura quase meio século. o encontro da paz em havana busca resolver isso, e dar tranquilidade para toda a população colombiana. a reunião é mediada por noruega, cuba, venezuela e chile. 
e para tratar de um tema tão complexo, tão cheio de rancores, uma holandesa que milita na guerrilha das farc está entre os que representam o grupo.
seu nome é tanja nijmeijer, ou, para os guerrilheiros: alexandra.
ela é acusada pelos estados unidos de sequestro, em 2003, de três empreiteiros americanos, que foram libertados em 2008.
nijmeijer, ou alexandra, tem 34 anos. e se juntou as farc há uma década. ela é uma das porta-vozes da guerrilha nas negociações de paz com o governo do presidente juan manuel santos. recentemente, concedeu uma entrevista.
o que todos queriam entender é: o que a bela holandesa foi fazer no meio da guerrilha na colômbia?

sobre seu país, ela conta que nos últimos anos sente falta. nijmeijer ouve o hino nacional holandês e fica triste. "eu adoraria voltar por 15 dias ao meu país. explicar para as pessoas por que estamos lutando na colômbia. mas isso não é possível no momento. o importante é estar aqui, em havana, e me concentrar no processo de paz com o governo", disse tanjia, numa entrevista concedida para a anncol, que é uma agência de notícias colombiana com sede na suécia.

para permitir sua entrada em cuba, a promotoria da colombia suspendeu duas ordens de prisão que pesavam contra alexandra. uma pelo crime de rebelião. a outra com a finalidade de extraditá-la para a holanda.
a entrevista de tanjia, ou alexandra, foi postada no youtube. e ela parecia bem à vontade ao falar do seu papel na guerrilha. "eu não sou uma exceção em tudo. isso é coisa da mídia. não importa onde você nasceu ou onde vai morrer. o que importa é onde a luta está. acho que o lema de che guevara é válido mais do que nunca", conta tanja nijmeijer.

neste caso, não fica bem chamá-la de "musa da guerrilha", da "revolução" ou qualquer item correspondente. a mania de usarmos "musa" para as situações em que há uma mulher bonita em algo incomum banaliza a própria beleza, além da mulher e do assunto em si... isso tira o foco do que é mais importante. mas é evidente que qualquer assunto é mais exposto na mídia quando há fotos, vídeos de uma mulher atraente. é como os efeitos especiais num filme. quem deve chamar a atenção primeiro, o filme em si, ou seus efeitos especiais? este não pode complementar o primeiro?

enfim, se tudo correr bem, as negociações de paz devem obrigar as farc a se tornar um movimento político legal. enquanto as autoridades devem se preparar para garantir a segurança da organização.  as farc contam com 9 mil combatentes que devem ser reintegrados a vida civil, ao mesmo tempo em que terão de responder por suas ações. 

diferentemente das outras vezes em que a paz não deu certo, dessa vez não se negocia a anistia absoluta.