quarta-feira, 30 de maio de 2012

Le voyage dans la Lune (1902) - Court-métrage [HD/Version couleur]


há quanto tempo a lua cheia existe
há quanto tempo e quantas vezes, 
num céu limpo, ela brilha branca, 
amarelada, num começo de noite fria?

se faz tanto tempo assim
se foram tantas vezes assim
porque ainda nos comove?

tem um cisco dourado no olho da lua

são os gritos da rua, 
balão de ar que não se move no espaço
o desejo de tua vida envolver
pousar, feliz, em teu abraço

e fim

lua serena


serena em mim toda saudade
que não se mede
nem com soluços
sonhos revelados
ou discos arranhados

- Serena flor do juazeiro
resistente e improvável
fiel flor amiga
espinhosa 
(mas ainda flor)

deixa esse bicho saudade entrar
que quando se aproximar
das angústias mais profundas
o bicho irá se afogar
em lágrimas e sorrisos e cantos 
e encantos e contos riso-tristonhos

- Eu quero é serenar, mulher
quero teu beijo de lã
cobrindo de quentura meu corpo nu
e transpirar na rede esse calor

esta saudade só faz
 aumentar a minha sede !

ainda trecho de A elipse, meu conto...

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A mulher estava sozinha. Olhava pros pés. Sua concentração era tanta que pensei: Ela vai levitar. Não saiu do lugar. Uma lágrima escorregou pelo rosto e foi molhar sua blusa amarela. Mas nem isso a tirou do transe. Não consegui mais olhar; me senti um invasor. Por um momento me invadiu a idéia de respeito. Seria isso respeito? Fiquei incomodado por ter visto aquela cena tão íntima. Muito mais do que ver a moça estonteante se tocando. A mulher da cadeira de rodas me fez sentir culpado por estar olhando outras vidas sem permissão. 

Então me lembrei de todas as cenas sem permissão por que passei - e que vi - através deste buraco; me lembrei e comecei eu a chorar. Lentamente, apoiando a cabeça nas mãos. Os braços nas pernas. Os pés no chão. Chorando. 

"Impressionante. Ele chora, devagar, calmo, como se aquilo fosse a única coisa que lhe restasse. Como se fosse o único gesto digno. Ele chora sem esforço. Simples. Tão primitivo quanto o sorriso, só o choro. Ele está descobrindo quem é. Ou, o que é." 

terça-feira, 29 de maio de 2012

em qualquer lugar do mundo


 casamentos de adultos com crianças não são novidade no mundo. geralmente acontecem por motivos religiosos ou financeiros. mas em algumas regiões da áfrica do sul, o motivo é baseado num mito. de que ter relações sexuais com virgens poderia curar os infectados pelo hiv.
antes que alguém abra um sorriso de lado e diga: ah, esses ignorantes...! 
pense bem, você que me lê. 
em qualquer lugar do mundo há bobagens como essa. inclusive em regiões remotas do brasil, ou regiões altamente urbanizadas de são paulo, que se acha civilizada. ou nós não presenciamos atos de selvageria medieval por aqui? por exemplo, na inglaterra (clique aqui e veja a matéria)
nas colinas da áfrica do sul, num vilarejo distante da cidade, as mudanças do mundo demoram a chegar. meninas da região são sequestradas e forçadas a casar com homens aidéticos. os infectados acreditam que manter relações com virgens pode curar a doença. uma investigação na área rural de Eastern Cape, mostra que crianças de até 12 anos, da etnia xhosa, vivem a pressão de casamentos, às vezes pela própria família, que aceita dinheiro em troca de entregar a filha. 
e quando o dinheiro não resolve, acontecem os sequestros. existe uma tradição local conhecida como ukuthwala, que significa literalmente pegar, tomar. 
mombasa gxuluwe trabalha para a ong campanha mundial contra a aids. ela nasceu e foi criada nessa área. ela conta que esse mito, de que se você dormir com uma jovem virgem, o homem será curado do vírus hiv, é forte no vilarejo., mombasa. os homens, que se tornaram viúvos por causa da aids, simplesmente acabam infectando as meninas. 
as crianças podem custar algumas cabeças de gado, ou apenas um frango. as famílias invariavelmente aceitam o suborno. algumas crianças conseguem escapar. e encontram abrigos controlados pela igreja. lá, elas têm medo de falar sobre o assunto. mas algumas contam suas tragédias. uma delas diz que uma vizinha lhe chamou um dia e lhe perguntou se queria se casar. a resposta foi não. então a vizinha disse que ela seria levada a força, e que apanharia. 
a menina lembra com detalhes: "havia um homem velho num quarto e ele me disse - eu paguei gado por você. e você querendo ou não será minha mulher. eu tentei lutar, mas ele me empurrou as pernas para abri-las... então me deitei com ele", contou.
estupros como esse acontecem sem que os homens da região entendam que estão fazendo algo errado. o trabalho de conscientização está sendo feito. de dezembro até maio, não há relatos de sequestros ou casamentos forçados. 
timothy nyawuse, chefe do conselho tracidional do vilarejo, diz que ninguém sabia que estava cometendo um crime. e pediu desculpas, em nome da comunidade, pelos casamentos forçados.
a próxima batalha é recuperar a vida das jovens violadas (elas são rejeitadas pela comunidade!), e que agora estão infectadas com aids. além de convencer os homens de que sexo com virgens não cura doença nenhuma.

bocas e palmas de ouro em cannes


sua boca fala
diz coisas espaciais

sua boca explode
versos reprodutores
dispensa
elogios
e primores

caleidoscópio na areia
sua boca se move
cinema expressionista

sua boca movie
la película 
uma trajetória de setenta e sete rotações

seu beijo murmura
morde sorri e se vai

tudo então 
se consola e cala





segunda-feira, 28 de maio de 2012

trecho do meu conto A ELIPSE

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CAPÍTULO QUATRO: QUANDO EU ESCUTO 

Fascinado. No primeiro dia de observação fiquei fascinado. Fiquei Elis Regina cantando. Eu não queria destruir nenhum ser humano, nem queria o poder que o conhecimento da essência humana nos dá. Quando me fascinei, eu desejava conhecimento. Eu estava curioso. O mundo passou a ter uma certa relevância pra mim. O que eu assistia pela tevê, vendo as pessoas na tevê... as pessoas estavam dentro da tevê... mas elas estavam nas ruas. Rua? O que é uma rua? A rua é o palco. O que existe fora de minha sala? Fora de mim? Porque dentro, não sei. Estou vendo um ser humano de verdade. E vários! E sorriem. E gritam. E brigam. E choram. E é só. Porque não conheço mais do que isso: chorar, sorrir, brigar e gritar. 


"Ele olha pelo buraco e observa as pessoas. No início ele ria, ria, até escorregava. Ele contraía os músculos do rosto, formava um bico com os lábios, olhava com estranhamento, mas depois, depois ele aprendeu o primitivismo do sorriso. Descontraiu. Ele cobria a boca com a mão, envergonhado por suas risadas. Tímido, com a descoberta de que também podia ter curiosidade. Aprendeu a primeira lição. A curiosidade é o combustível. E ele era uma reserva petrolífera inexplorada" 


E eu ainda sinto que alguém me observa. (...)

domingo, 27 de maio de 2012

o preço da felicidade

os estatísticos descobriram um jeito de calcular o preço da felicidade. e é claro que só podia ser coisa de americanos, porque eles adoram estatísticas.

11 mil reais por mês e estamos conversados. 

os sem-nada-pra-fazer da universidade de princeton - coordenados pelo prêmio nobel de economia de 2002, daniel kahneman, outro sem-nada-pra-fazer - analisaram um banco de dados gigantesco (imagino o quanto) nos eua. descobriram um valor que deixa todo mundo satisfeito. ou seja, mais do que 11 mil reais por mês não significa mais bem-estar.
a felicidade, dizia jobim, o tom, é como a gota de orvalho numa pétala de flor. 
já o nobel de economia, kahneman, diz: 

"Uma renda pequena exacerba as dores emocionais 

associadas a problemas como divórcio, doença ou solidão".


a pesquisa, que deve ter tomado um tempo e dinheiro dos caras de princeton, foi publicado na revista "pnas". e a conclusão é de que o importante não é ser rico, mas não ser pobre. mais de 450 mil americanos foram entrevistados...
tudo foi feito com rigor científico (não duvido). 


os pesquisadores pediam que as pessoas relatassem a frequência  com se sentiram felizes ou sorridentes recentemente. perguntam o mesmo com relação ao estresse. pedem que numa escala de zero a dez digam o quanto estão satisfeitas com suas vidas. a média obtida, no caso dos americanos, foi de 6,76. aí os estatísticos brincam com seus números e cruzam as respostas com dados sobre a vida dos entrevistados.


tristeza não tem fim, felicidade, sim...


às vezes é melhor ouvir um jobim do que 450 mil americanos e um prêmio nobel de economia.


sábado, 26 de maio de 2012

íris




espelhos não existem. são nossos olhos que refletem. 
o que podemos ver. 
algo dentro de nós recebe ou devolve aquilo que percebemos. posso chamar de alma? inconsciente. subconsciente?
deve ser sub. tem de estar bem abaixo de tudo o que é tangível. há pessoas cujo olhar é um refletor. você olha, e se vê. 
e olha bem fundo, querendo decifrar aquela pessoa, mas ela devolve exatamente o que você mais teme : devolve você mesmo.
por isso, quando olhei para ela, compreendi o que eu era, compreendi meus ataques de ausência. meu medo de ver meus segredos inconfessáveis, meus defeitos mais terríveis.
até pensei e tentei parar de encará-la. mas ela, suavemente, com um beijo terno no rosto, a mão erguendo meu queixo, me fez vê-la. na verdade, ver-me. 
e o que vi surpreendeu-me. no reflexo invertido de sua íris, vi-me uma sombra disforme. senti-me incompleto, enquanto eu a via concreta, fixa, inabalável. ela é ao mesmo tempo a luz e o edifício. eu, a sombra. ela: carne e poesia. 
eu: nem sei. 
sei que espelhos não existem.





terça-feira, 22 de maio de 2012

são paulo sem tempo


uma cidade vibrante, vulcânica. que se renova, que se atrasa por causa do trânsito e da chuva. uma são paulo voraz, devoradora de culturas, como os antropofágicos modernistas, paulistas, já diziam em 22, como os índios faziam muito antes. uma cidade de luzes, sol sob nuvens cinzas e pernas apressadas. são paulo, se fosse uma pessoa, seria sonâmbula e sonhadora. são paulo dorme tarde, acorda cedo, ou na verdade nunca dorme. 

os milhões de pés caminham pela selva de pedra entre animais domesticados ou não. pessoas sem tempo para dizer bom dia, mas com espaço para reclamar do clima, dos buracos, e da falta de tempo pra dizer bom dia.
paulistanos, paulistas, brasileiros, estrangeiros sem tempo para ver. às vezes olham, mas não veem a história escrita nas esculturas, nos memoriais da américa latina.

reclamam do excesso de asfalto, da falta de grama, e não caminham pelo tapete verde natural do ibirapuera, com a mesma frequência com que disputam quem será mais rápido para atravessar a avenida paulista.
mais populosa do estado. do brasil. mais gente na cidade de são paulo do que em qualquer outra do continente americano. do hemisfério sul. sexta maior cidade do globo.
décima-quarta mais globalizada do planeta. décimo maior pib do mundo. sua região metropolitana tem a quarta maior concentração de pessoas da terra, com mais de 20 milhões. 

a cidade tem onze milhões.

números, números e mais números. são paulo são dados, estatísticas, quantidades, pesos e medidas. força industrial, máquina, motor e relógio. perder tempo em são paulo é pior do que esbarrar em alguém e não pedir desculpas.
são paulo vê o futuro mas também despreza o passado. não por desdém, mas por falta de tempo de admirar.
o dia vira noite e vira dia num piscar de olhos.
mas quando o paulistano vê sua terra, do alto das alturas dos edifícios mais altos, ele se assusta com tanto tamanho. tanta grandeza.
e a beleza que raramente vê na cidade, ele passa a perceber sem querer.
olha o céu e o chão e já não pensa mais em números. apenas busca por respostas - dentro do seu coração apressado pela falta de tempo. 
algo que lhe diga o que ele sempre soube.
que essa coisa de nunca dormir é conversa. são paulo, na verdade, está debaixo de sonhos. o sonho de ser dono do tempo.
há 459 anos.

amanhecer

eu preciso de silêncio pra vê-la sorrindo

enquanto a noite segue silvando fria
a sopa esquenta o sangue
enquanto seguimos possuídos um pelo outro
o tempo vai passando
e cada manhã é um brilho
um batom enlouquecido
um gato alvoroçado

o silêncio e a noite rasgam meus lábios
de sede e fome 

enquanto caíamos na rede
repetíamos a cena matinal
no colo um perfume do café fumegando
esse vinho inebriante

enquanto eu conto com o sabor do tempo
cada manhã revela-se um beijo doído
suave e sofrido
roído com toda a ferocidade dos dentes

enquanto você não dorme
desenho seu encanto em meus dedos gelados
enquanto você bebe o calor salgado
das nossas palavras de amor amalgamado
enquanto

cada manhã sem você
amanhecer
não há



domingo, 20 de maio de 2012

o gosto do cheiro


eu gosto do cheiro da chuva
e principalmente do vento, frio, depois da chuva
da água no meu rosto frio
eu gosto
e das lágrimas de alegria esfriando meu corpo
acho bom quando piso
nas pequenas poças de água
eu sinto nisso a umidade misturada ao vento
congelando meu sangue
eu sinto ainda minha vida arrebatar-se
como se toda força
concentrasse no gelo a graça
eu gosto da calma das gotas da chuva que invadem o chão sem pressa
também prefiro olhar o céu e espantar-me com ele

a chuva e o cheiro
a umidade
o gosto o toque o gelo o arrepio
tudo isso me lembra você 
seu possível beijo
seu não-beijo 
seu jeito de amar e de ir embora assim sem avisar

 eu gosto da chuva e de me espalhar em você

sábado, 19 de maio de 2012

o canto, a voz e as ativistas


a luta pode ser solitária. pode ser através de um grito, um canto, um sussurro. a arte a serviço do protesto, ou militância política pela paz. há inúmeras mulheres que não são famosas, nem ganharam prêmio nobel. mas não têm medo de soltar a voz contra a injustiça. elas são ativistas.

estão de branco. pela paz, pela pureza. pela reunião de todas as cores. elas protestam. pelos filhos desaparecidos. ou contra as guerras e crises.

contra a desigualdade social, sexual, cultural, religiosa. as ativistas são mulheres, mães, militantes e guerreiras.
resistem à opressão dos homens, das leis que segregam suas vidas e as de seu povo.

suas vozes gritam nos países onde o silêncio é uma ordem.

irã, bahrein, costa do marfim, egito, bangladesh e afeganistão.
seus protestos aparecem onde a mulher é só uma mulher. na índia, o maior problema é ser pobre. as duas coisas - pobre e mulher - são quase o mesmo que não ser nada. contra isso, também, elas soltam a voz.

na grécia, país sem dinheiro, no fundo do poço de uma crise sem fim, alguém vai cuidar dos que não têm mais cuidados. são elas. sabedoras do seu destino de resistência à recessão, elas protestam. não aceitam a conta do abismo econômico provocado pelos outros.

em qualquer lugar, idioma ou religião. há problemas iguais. e as costas que levarão o fardo são sempre as mesmas.

mercedes sosa era a voz da américa latina. dos povos oprimidos, dos camponeses. a voz que unia todos os países com seu canto pela liberdade e pela afirmação do latino-americano.

a argentina mercedes sosa nos deixou em 2009. sem ser política, foi mais do que isso. ativista em sua arte. artista em sua vida. marcou gerações. dona da voz e da mensagem.
toda e qualquer homenagem às artes solidárias e ativistas precisam terminar com ela:

sexta-feira, 18 de maio de 2012

corações sem lar

um dos maiores campos de refugiados do mundo, em kakuma, no quênia, é tão grande que poderia ser uma cidade. milhares de pessoas, da guerra entre sudão e sudão do sul, sobrevivem lá, sempre à espera de um futuro, cada vez mais difícil de chegar.  

um refugiado tem um lar, mas não pode viver nele. foi expulso, perdeu suas terras, sua casa. sobreviver se torna prioridade. o futuro é ter o que comer. e cada dia é uma vitória.
quando o campo de kakuma, no quênia, foi estabelecido em 92, ele abrigava milhares de refugiados da guerra civil no sudão, outros tantos da somália. vinte anos depois, o campo que fica no noroeste do quênia, está cheio novamente, com um novo fluxo de pessoas fugindo dos conflitos em partes do sudão do sul e sudão.

nyibol maria é uma refugiada. ela conta que só decidiu vir para kakuma porque sua aldeia foi invadida e seu marido e filhos de vizinhos foram mortos na sua frente. ela diz que se escondeu e fugiu à noite.
levou três semanas para chegar ao acampamento.
as histórias se repetem. maimouna, outra refugiada sudanesa, não sabe onde está o marido. ela conta que as pernas do seu irmão foram cortadas depois de um bombardeio em sua aldeia. "eu fugi, e agora não tenho nada".

mais de 4.500 pessoas chegaram ao campo de kakuma em 2012. e mais de 70% sudaneses e sul-sudaneses. suas tragédias são parecidas. fogem da violência, de assassinatos indiscriminados, roubo de gado e casas incendiadas. famílias foram separadas em meio ao caos das disputas de território. principalmente em jonglei, no sudão do sul, o medo se espalhou. virou uma região sem lei. os alvos de ataques são, principalmente, as crianças e as mulheres. é praticamente um lado tentando exterminar o outro.

desde que o sudão do sul se tornou independente do sudão em julho de 2011 imaginou-se que o conflito teria fim. mas a indefinição sobre as fronteiras, que lado é meu, que lado é seu, fez com que as tensões voltassem. principalmente porque na região fronteiriça há muito petróleo em disputa. se houvesse só lama para chafurdar, só os porcos iriam querer.

a capacidade máxima de kakuma é de 100 mil pessoas. se o fluxo de chegada continuar no ritmo atual, a perspectiva é de que seu limite seja alcançado em junho. há mais de 91 mil refugiados lá. os somalis ocupam metade do acampamento. um terço é de sudaneses e sul-sudaneses. o restante vem de dez outros países africanos.   

são os corações sem lar.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

a acidez humana


jogar ácido em mulheres é uma ocorrência comum, por exemplo, no paquistão. mas houve um aumento no número de homens atacados da mesma forma no país. ainda não se sabe se é um tipo de reação feminina a isso. o fato é que 1500 pessoas sofrem ataques com ácido, por ano, em 20 países. e 80% são mulheres.
            
coincidentemente, o aumento de ataques contra homens começou depois do caso de suicídio recente da paquistanesa de 33 anos, fakhra younus.
há 12 anos, fakhra dormia, quando alguém derramou ácido em seu rosto. o acusado era seu ex-marido bilal khar, filho de um governador rico do paquistão. khar foi preso em 2002.

cinco meses depois, saiu sob fiança. em 2003 foi absolvido das acusações, por falta de provas. bilal sempre disse que ele não tinha feito aquilo com fakhra. em entrevista para a televisão, khar afirmou que um homem diferente, com o mesmo nome dele tinha entrado em sua casa e realizado o crime.
fakhra escreveu que não tinha mais um olhar humano, mesmo depois de 39 cirurgias. e que cometeria suicídio por causa do silêncio da lei sobre as atrocidades e da insensibilidade dos governantes paquistaneses. 
ela se jogou de um prédio em 17 de março passado.

khar afirmou que sua ex-mulher se matou apenas porque não tinha dinheiro suficiente, e não por causa dos ferimentos que sofreu.
só no paquistão, mais de oito mil e 500 ataques com ácido, além de outras formas de violência, foram relatadas, de acordo com a fundação aurat, uma organização de direitos das mulheres.

 depois da história da morte de fakhra, houve um aumento no número de ataques a homens. mohammad noman é uma das vítimas da vitriolagem. este é o nome que se dá ao ato de jogar ácido nas pessoas, com o objetivo de desfigurá-las.

noman se recusou a dar o divórcio a sua mulher. um dia, ele atendeu a porta. era ela. eu tenho algo para você, por favor, me perdoe, disse. 
ele se virou para ver. então, ela atirou ácido em seu rosto. os homens não costumam dar divórcio nessas regiões da ásia muçulmana e hindu.
ainda convivo com a dor do ácido, disse noman. mas o meu coração dói ainda mais. eu a amava. e ela me deu isso em troca.

 uzma noorami, da comissão de direitos humanos do paquistão, condenou a recente onda de vitriolagem contra homens, mas disse que a maioria dos casos ainda é contra mulheres. os maridos atacam as esposas por causa da estrutura de poder que existe na sociedade. elas são tratadas como mercadoria, disse uzma.
o governo paquistanês introduziu novas leis em 2011, criminalizando os ataques com ácido. quem for condenado poderá ficar até 14 anos de prisão.

mas não é só o paquistão. 
camboja, afeganistão, bangladesh, índia e outros países vizinhos têm os mesmos problemas e o mesmo sistema patriarcal ao extremo em suas sociedades. mulheres são objetos. não é preciso ir muito longe, para lembrar que no irã, mulheres estupradas invariavelmente são consideradas culpadas pelo crime que sofreram. e os homens raramente são punidos por isso. 

mas no caso do paquistão, os homens estão sendo atacados agora. e talvez por isso, é provável que as mudanças nas leis aconteçam mais depressa, e talvez sejam mais profundas. 
tão ou mais profundas quanto as marcas deixadas na alma das vítimas. 



quarta-feira, 16 de maio de 2012

UMA BOLHA

Bastasse teus olhos claros

Quisesse teus olhos largos


Gigantescos olhos raros


Revivem sonhos amargos



Me queimasse em teu lábio


Me gritasse numa prece


Me desmontasse hábil


Esta boca, quem a merece?



Houvesse no teu sorriso


Uma falha, uma folha


Caísse beijo preciso



Da carícia ou da 
escolha 

Doce amarelo riso


Do amor sobrou a bolh
a



sexta-feira, 11 de maio de 2012

longo tratado em que trato de colocar os pingos nos jotas

de quem é o direito da vida?

quem tem o direito de dar ou tirar a vida alheia? se a resposta for religiosa: Deus

e, assim sendo, raciocinemos...
se somente Deus pode dar a vida e tirá-la, não faz muito sentido o ser humano criar leis a esse respeito. isto é, pena de morte não se justifica. uma lei contra aborto não é coerente. definir uma lei sobre eutanásia ou morte digna, não faz sentido.
explico melhor. a lei humana não pode decidir quem deve ou não morrer. a lei que proíbe aborto está interferindo no pensamento religioso, em nome do próprio pensamento religioso, que definiu ser Deus o único que pode discorrer sobre o tema. todas as leis têm sua lógica: proteger a sociedade. mas proteger quebrando as regras de deus? eu sei. você vai perguntar: mas e quem mata, o que fazemos com o assassino? todas as diferentes respostas para isso foram dadas por homens, que diziam estar divulgando a visão de Deus (seja ele de qual religião for).

ok.

agora vamos para o lado não-religioso.

leis sobre morte e vida são aplicadas com um objetivo prático. se ele não é alcançado com êxito, então a lei não funciona. se não funciona, é preciso mudar. por exemplo, a pena de morte.
os americanos adotam essa lei há tempos. os próprios estão repensando se devem acabar com ela. por quê? por questões humanitárias? a desculpa pode ser essa, mas, na verdade, não é. matar bandido legalmente serve para avisar aos outros criminosos que não devem fazer o mesmo tipo de crime que leve a isso.
e serve para que a sociedade fique limpa de "gente assim, monstruosa", certo? ok. estamos livres? não, eles proliferam. os bandidos têm medo da pena capital? não.
e tem outro ponto crucial. a justiça é falha. o sistema judiciário, em qualquer lugar do mundo, comete erros. ou seja, alguém inocente pode ser condenado a morte. algo que já ocorreu diversas vezes. então eu pergunto: vale a pena matar um inocente por 50 bandidos culpados? eu penso que não. um inocente não vale 200 culpados. conclusão, o sistema de pena de morte não funciona para aquilo que deveria.

aborto. quem deve decidir sobre o bebê é a mãe (ou a família, caso seja muito nova). é assunto de mulher, não de homens, nem de leis feitas por homens. os homens dão apoio a qualquer decisão, homens aconselham, prometem cuidar etc. mas não decidem. elas decidem. por isso, por ser pessoal, não pode haver uma lei proibindo ou permitindo. aborto é questão de saúde pública. não pode haver tantas adolescente morrendo por abortos ilegais e mal feitos. a igreja quer ajudar? aconselhe, dê assistência, diga que vai cuidar do bebê se a mãe não quiser, faça qualquer coisa, mas não se meta a fazer lobby para manter a lei do aborto. não é decisão religiosa. que todos se esforcem por ajudar e convencer a mulher a não fazer o aborto. porque no fundo, no fundo, ninguém é A FAVOR do aborto. ninguém acha o ato de abortar divertido. eu sou a favor de NÃO HAVER LEI proibindo o aborto.

a eutanásia é um pouquinho diferente. é importante REGULAR essa questão com uma lei. porque é possível que haja tentativas de assassinatos com a desculpa de se estar ajudando alguém que sofre a morrer. é possível. para evitar isso, é preciso avaliar cada caso, e ter a aprovação do doente terminal, ou de sua família, caso o doente esteja inconsciente. é a chamada morte digna. é recusar o tratamento que só lhe provoca dor, sem resultados práticos. porque a medicina não pode esquecer que sua função também é minimizar o sofrimento humano. por isso, todos têm o direito a morte digna. não é suicídio ou pedir pra morrer. é "me deixem morrer dignamente". porque a morte vem, mais dia menos dia.
a religião é categórica: feto é vida, não podemos tirar. estuprador, sociopata, maníaco, torturador e padre pedófilo também é vida. quem está quase sem ela, na cama de hospital, sofrendo dores terríveis diariamente, merece continuar assim até seu fim agonizante, segundo, e seguindo, a religião?

não significa dizer que tudo deve ser liberado. e não deve. estou falando apenas de vida e morte. quem acha que tudo deve ser liberado, é o mesmo que achar que se legalizarmos a corrupção, o problema estará resolvido. a corrupção atravanca o funcionamento de uma sociedade e seu progresso. permitir a corrupção é tiro no pé. como punir os crimes? a punição precisa servir de exemplo, ser prática, útil para a sociedade e - se com o tempo - não for possível transformar o criminoso em alguém "curado", que ele pelo menos continue sendo útil para o mundo de alguma forma.

resumindo: o que mais funciona quando eu quero evitar acúmulo de formigas na minha pia: eu evito derrubar açúcar... ou, se derrubei, limpo antes de dormir... o mesmo vale para as baratas.

respostas para os problemas existem. só precisamos fazer as perguntas certas.


de respeito e outras mães

a revista americana de negócios, a forbes, elaborou um ranking de mães poderosas. a lista de 20 nomes considerou o sucesso e a força das matriarcas de acordo com suas atuações em esferas de governo, negócios, entretenimento e filantropia.
a presidente dilma rousseff foi considerada a segunda mãe mais poderosa do mundo. a primeira é hillary clinton.

são mães de todo o tipo. elas são o que são porque têm a última palavra. colocam generais, simbolicamente, de joelhos. mãe é ser aquela que diz talvez, sim, e não. e também fala: vou pensar...

aquela que decide o destino de seus brinquedos. jovem, bonita e famosa. ela pode ser um show.
ajudar, controlar, orientar, suportar um mundo, uma região, um banco, fãs enloquecidos, um país de necessitados, honestos, bandidos, ricos, miseráveis, esperançosos, tristes, alegres, gays e homofóbicos e desempregados.
hillary clinton, dilma roussef, indra nooyi - que é chefe da pepsi. sheryl sandberg - vice do facebook. melinda gates, sonia gandhi, michelle obama, christine lagarde, do fmi. elas são as oito mães mais poderosas do mundo. a cantora beyoncé knowles é a décima-quarta. a ativista aung suu kyi, de mianmar, é a vigésima.
nas finanças, na política, internet e comunicações: ser aquela que decide pra onde veleja o barco, a vida, o destino final do dinheiro.
igual a aquele filho que barganhava com a mãe alguns centavos a mais para comprar o docinho da banca da esquina, ou o gibi dos super-heróis.
se o doce dá cárie e a mãe é durona, pode esquecer a grana. e super-herói você já tem em casa.
então, quando você quiser um doce, peça com carinho e bons argumentos. quem sabe ela deixa... afinal, respeito é mãe... da boa educação.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

tonico e tinoco






emocionante edição da matéria por Ana Claudia Watanabe,


narração de Jorge Ribeiro e texto meu. adorei essa 


homenagem, achei apropriada e singela. e eu gostava muito 


de tonico e tinoco. infância minha...

quarta-feira, 9 de maio de 2012

confecção de judiciários


e justo não quer dizer justiça
que justo também é justeza, de estar na medida
e você é justa
já o mundo, desajusta

eu não sou clarice lispector...

a vida é uma vela (de barco)

porque a vela (de chama)


é só aquela coisa que bate no peito 


e pulsa involuntariamente


e "desbate" quando a chama de repente apaga


que o vento me leve aos sete mares


ou me deixe à margem da estupidez humana


a vida é vela


e velejar é preciso