sábado, 16 de fevereiro de 2013

vida longa

o instante do vento leve sobre os cabelos
a eternidade do beijo apaixonado
a fração do tempo no tempo de um abraço

as possibilidades do silêncio

a longevidade inesperada de um sorriso
as muitas vidas de um gato
a precisão do toque

o tempo é poema sem rima
remo sem canoa
caminhada sem rumo

vida longa aos preguiçosos
vida curta para a audácia
a vida está na raiz
longevidade é um ponto de vista

e a minha vista é míope
mas feliz

chooju

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

gastronomia boleira

em palcos distintos, entram duas aves boleiras das terras tupiniquins.

uma, é o famoso pato que já teve molho tucupi... "enricou" e virou pato à milanesa. e ainda
ganhou requintes de pato à  montmorency.

a outra ave também tem origem simples . um ganso à portuguesa, que todos achavam que um dia chegaria a foie gras. mas seu limite foi um assado de natal.

as duas aves vinham de asas quebradas. sob desconfiança dos olhares alheios.

o ganso grasnou: toque dali, daqui, algo assim: um suspiro de requintes passados. mas seu voo ficou no chão.

já o pato esperou, entrou, recebeu, ajeitou, bateu, bateu outra vez... e voou novamente.
migrou para os braços fiéis, como se fôra um pato do povo. pato com arroz e feijão. a plateia exultou.

e o ganso foie gras??
a plateia pagou pelo que viu: um ganso que bate asas e ainda não voa.

((aqui está o vídeo que entrou no sportscenter do dia 04/02))


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

crônica para a síria


dia a dia, os países dão sinais de que a guerra na síria está longe de acabar: israel ataca damasco. irã e rússia criticam o ato, mas fornecem armas ao regime. israel fica em silêncio, e enquanto isso, americanos estão preocupados com a presença do hezbollah no conflito.  
a síria se transformou num palco. os atores são tanques. sua fala é sempre a mesma. no mesmo tom, para a mesma plateia.

daraya, sudoeste de damasco, tem sido palco de violentos combates na síria entre rebeldes e exército. um conflito aparentemente sem fim, sem tolerância, sem acordo.

seres invisíveis eram os alvos dos tanques. não se tem certeza de que o vídeo é atual. ou se tem uma semana, um dia, uma hora, um mês. nem importa mais. o tempo na síria não passa. os escombros e a fumaça fazem parte permanente do cotidiano.

o cenário é branco. o ar, irrespirável. a morte ronda as ruas da capital damasco. o país está se desfazendo aos olhos do mundo, como já alertou o mediador brahimi, da onu.

são milhares de pessoas. mais de 80 mil mortos. 
outras dezenas de milhares sem saber se vivem ou se estão no inferno. sobrevivem em acampamentos na jordânia, turquia e todos os vizinhos solidários da síria.

a fome, o frio, as doenças, a falta de abrigo decente são melhores do que estar na síria.
a discussão agora não é sobre essas pessoas. o foco é outro.

é sobre o bombardeio de israel a damasco. por que atacaram? porque acham que quando assad cair, armas químicas podem cair nas mãos do hezbollah. isso é o que tentavam destruir. mas os aliados da síria, china, rússia e irã já reclamaram do ataque.

a guerra é uma cortina de fumaça e um jogo de interesses. 
a rússia e o irã, que é inimigo mortal de israel, são os mais críticos ao bombardeio israelense a damasco. por outro lado, fornecem secretamente armas ao regime de assad. 
é o que pensa a casa branca.

mediadores pedem o fim da violência. rebeldes lutam. o exército luta. vizinhos abrigam. aliados dão armas. não-aliados fazem discursos. israel ataca. 

e a síria é apenas uma flor solitária num temporal de ódio.