domingo, 26 de agosto de 2012

queria dizer e não disse mas acabou dizendo



A GENTE DEVE SEMPRE COMEÇAR POR UMA PALAVRA DE IMPACTO.
 vamos analisar as palavras desta frase anterior. a gente deve sempre começar por uma palavra de impacto. desconstruiremos a frase, não seu sentido, mas certamente criaremos inúmeros sentidos com pouco ou nenhum sentido prático. mas é isso mesmo: somos todos lunáticos. primeiro a palavra impacto.
Impacto não tem impacto. E gente? Gente não causa impacto. Gente é muito importante, se usa muito, se fala muito, se estuda, mas gente não tem importância, apesar de ser importante. A palavra “deve” é importante. Todo mundo, ou toda a gente deve alguma coisa a alguém ou a si mesmo. E quem não deve acaba devendo, a não ser que morra antes. Dever é mais importante que gente. É porque gente precisa ajudar, e ao ajudar, gente precisa receber a ajuda de volta. É dever. É mutualismo humano. A gente cobra. De um jeito ou de outro, mesmo que seja em nosso ressentimento, na mágoa ou na raiva de alguém que nos deve. Mas gente há que não cobre. Mas mesmo a opinião da gente sobre quem deve é uma forma de cobrança. GENTE COBRA! E sempre? Sempre é o que a gente diz. Mas nunca a gente sempre diz. Sempre quase sempre serve pra dizer alguma coisa boa, tipo: “Vamos ser (CONTINUAR) amigos?”, pergunta – “Sempre”, responde. Quem responde é nossa mente, nosso reflexo, nosso corpo, nosso espírito, um ou outro, ou todos, ou alguns juntos; ou nenhum. Às vezes, a gente não responde. Fica no silêncio, sente doer no silêncio e tilintar uma resposta, e ressoar num eco de espelho invertido a mudez. A gente fica mudo no som, mas pode ficar inteiro.                       Quando o peito fica vazio, é pela
compressão  e não pela  d i s p e r s ã o. As palavras “POR UMA” são complicadas. Tem-se que usar com cuidado. Quem põem uma, põem duas ou mais. Sabe-se lá o quê. Há tantas coisas a serem postas e de diversas maneiras, que não cabe aqui exemplificar. Por uma pessoa se faz tudo, se faz nada mais do que a obrigação – quem te obrigou? – por uma pessoa se grita o grito dela, pra ela não se sentir só. A gente grita pra ficar só, e isso é mal, e é pior porque tem gente que grita esse grito, mas não fica só. E palavra de? Palavra de amor,de mãe, de vó, de amante, de falsa sensação de carinho; palavra de honra, de aviso que aconteceu. Palavra de homem falha. Palavra não diz o que se propõem. A gente não sabe entender a palavra que a gente pensa que fez. A gente prende a palavra, mas ela não é gente pra se deixar prender. Reduzir o campo de percepção não aumenta a compreensão. A compreensão está na gente. Cadê, cadê, cadê? Tá aqui! A gente tem que procurar um jeito de não se entender que seja melhor que esse não-se-entender que tem por aí. A gente precisa começar. Começar a entender que entender não é julgar. Julgar é outro verbo, é concluir. Pra concluir a gente tem que começar. Aí você vai entender, por exemplo, o que significa e o que é aquilo que eu sinto por você, este “o quê” que eu sinto tanto e sempre. Que às vezes, sem medida, me derruba. Impacto e caio. Que sinto dever, e lembro que devo muito e me recaio em pêndulos e diviDADAS. Por uma sensação frouxa, por uma palavra de gente que quer ajudar porque deve ajudar, uma sensação que nunca se firma e concreta. Por um beijo, procuro sempre começar... e terminar. Aí você vai entender o que significa e o que é o que sinto por uma gente. 
A gente.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

desdoidecendo


o dia seguinte chegou:
a sombra se desfez em risos de escárnio
a carne voltou a pulsar, 
amada, amante e desamordaçada

nasceu, impávido descolosso,
o sol, sobre minha cabeça
nasceram medos, angústias e segredos 

da fotossíntese verbalizada
nasceu um novo pensamento
que amanheceu no clarear do tempo
que temperou os sonhos do poeta

a solidão é sombra e autoconhecimento
a sabedoria é luz e caminhada ao desconhecido
escuridão é cheiro
e luz é sabor

endoidecer


hoje o sol morreu na palma da mão
morreu assim que anoiteceu.
escureceu-se o tempo e a esperança
e o sol se pôs no coração de quem descansa.

além de mim, de nós,
a solidão pragueja e alcança
atordoada vive
e vivo eu atordoado
além da luz nos olhos
além da cruz na testa

os pensamentos trôpegos vão em vãos
em túneis, labirintos
na contramão única da existência

revolução


domingo, 19 de agosto de 2012

d e s e j o



todo o processo mágico de um beijo não é lógico

todo sorriso cínico me seduz

cada verso pobre me comove

o seu movimento é harmonia pela manhã

os braços largados cheirando avelã

os ombros relaxados e caídos sem pretensão

tudo em teu corpo cheira bem e é musical

tudo em teu corpo move montanhas

segredos que uivam pelo ar nos ventos cínicos do teu olhar

sábado, 18 de agosto de 2012

espelhos d’água


eu fecho os olhos e não vejo a imagem do rosto seu
não consigo descrever as formas e nuances daquela face nua
não sei se o nariz é grosso, grande, aberto, aquilino ou estúpido
os olhos vesgos serão estrábicos acinzentados
quem sabe úmidos de sofrimento ou fundos de melancolia
quando fecho os olhos não me vem à mente nada
não consigo desenhar nem onde fica a sua boca bendita, maldita
quando penso no rosto
meu orgulho expõe através dos meus desenhos
todo escárnio deste não-lembrar
eu sei que este rosto já sentiu meu gosto azedo e meu carinho cego
que cara, rosto, face, pele, ossos são esses,
que não me esqueço
e só me lembro que existiu?
eu fecho os olhos e peço que você desapareça
não quero me lembrar do que nem posso ver

terça-feira, 14 de agosto de 2012

o doente


seu estado é prozac
o temperamento renitec
cruzando ante-salas de penitecs
restava o resto
talvez um capoten
mas ele vitergan e o resto que se mucofan

o tempo é magnopyrol
sugestivo para ele que antak antes
reverberava clusinol

escorregando inseguro
na escada firme de mármore
suas nádegas lisador no chão
Ilojene ajudou
mas Persantin desistiu
scaflan!
“Eu quero epocler!” gritava exagerílico
“É claro!”
(peprazol nele por duas horas)
É tudo mevacor, respondia anárvico

já recomposto da artimanhosa
estratégia berotec
ele caminha pedindo forças keflex

os olhos cinza
bem aldactone
deixam ver o risco de cismar no cesto errado
e não adianta depois um mercilon
que não vai curar
a eterna manicuria de ser
pobremente um apracur anador –

a morte não passa de Ilosone

domingo, 12 de agosto de 2012

medos e mudos


meus medos e mundos imaginários
são metástases de um metabolismo
em mergulho de morte

teus sombrios sonhos separam 
a cepa da semente seca
e subitamente disso surge o sol:

testemunha total de todos 
os tratados sentimentais destes estúpidos
tratantes e tolos

eles, humanos de mãos mundanas
modos métricos e submetidos 
a mutações milagrosas

melindrosos humanos em seus mundos
e modos mundanos
humanos tolos 
são todos mudos de medo de mudar a muda

augusta e asfalto groove


um beijo sem dor, sem desejo nem sonho, nesse seco verão
doce ou tinto
nesse vinho de inverno
existe somente o sol frio e ressecado
e nesse contexto que detesto
desse ruído que não presto a mínima atenção
nasceu 
o beijo sem umidade nem calor
na palavra que fala, ou no meu coração 

surgiu na superfície do asfalto baixo, 
ritmo elétrico, percussão própria
esse beijo é desejo de recriar o groove
de sentir o momento certo

às vezes, sim, 
eu quero gritar no silêncio da noite
no barulho mudo e metafísico da rua
às vezes, assim, a noite me quer...
pulsante, puto e brilhante
sim, às vezes a rua noturna deseja meu fim

às vezes não

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

poema para quem precisa de


poema pra teu sorriso indeciso
olhar incandescente
poema pra manter a calma dos teus gestos
calculados
poema para cobrir de silêncio as palavras
almas
poema para os sonhos impenetráveis
para a mulher à espreita
esperando um vacilo da menina
para mostrar-se melhor 

poema pra sorrir com a trilha da noite
pra ver o calor respirando no pescoço de quem não dorme

poema por enquanto
para os encantos de quando o vento assobia diante da velha árvore
e um beijo flutua pelos sonhos da menina solitária
a noite esfria
 meu corpo de repente esquenta
 e esse calor me parece um espelho:
 não tenho como fugir dele
de mim
ou do poema

possuído


encostado aqui em teu coração
vou me levando pelos sussurros do vento 
que leve... me leva
e revela em 3x4 meus sonhos tatuados na alma

o vento enleva sobretudo o corpo
esse concreto púrpura e maciço

lembro-me de meu corpo caindo
rindo freneticamente
enquanto o descompasso único
do teu peito cantava
se agigantava

artéria pulsando artéria correndo
artilharia de glóbulos do bem e do mal

somos todos assim

a região do peito é mistério e caverna
um calor solitário e triste
solista de acordes percussivos

toco meu peito, sinto as batidas
procuro-as e encontro a melodia sinfônica
imagino a sua regência
teus dedos, no lugar dos meus

vou sorrindo pra mim como sorririas
vou sentindo tua ausência e tua presença
como sentirias a minha

acordo febril, à álvares de azevedo, 
mas sem a febre real
vivo assim
acompanhado pela demência virtual

pelo silêncio e a lua
pela música, pelo cinema
por essa dor no peito
e pelo poema
(quem sabe uma carta
um abraço, um telefonema?)

um email, um toque de celular
um jeito de devolver essa pulsação incessante
que veio do teu beijo, 
no luar dos amantes
ou qualquer coisa remotamente
despudoradamente
comunicável
meu peito é uma escola de samba sem harmonia

e o teu
é bateria fora do compasso

dessa agonia rítmica
eu passo

domingo, 5 de agosto de 2012

desculpas e perdões e escusas


escuse-me
 desculpe-me a descoberta de teu desarranjo
o deserto deste exílio que te aflige
desculpe a desordem
culpa de saber
o que dói
des
apareça
de minha culpa
minha culpa de não ser
de ultrapassar as humanidades
desculpe a descoberta do teu mar amargo

perdoe-me porque
existo sem medo de mim
a escada do meu destino se desenrola
e meu dedo segura o nó
que desata a curva do tempo
entre o silêncio da solidão extrema
e o sorriso de uma vida tensa


sempre


enquanto a sombra navega  livre pelas minhas veias
ou quando o calor dilata o desespero e a intolerância
o nosso maior dom é nosso maior dilema: somos comunicação
precisamos falar mas não sabemos ouvir
gostamos de ouvir e não temos coragem de falar
falamos e ouvimos e somos arrogantes, incompreendidos
não falamos nem ouvimos: nunca existimos 
mas estamos sempre por perto de quem acha que existe
existir para quê? para abrir e fechar os olhos, lentamente
e nos milésimos de segundo entre uma coisa e outra
contemplar a vida
mas se não posso ver, posso tocar
usar os outros sentidos
e sentir

...suavemente saber-me na sua pele,
 mordendo-a sutilmente, cravando cada dente num poro seu, 

tremendo - a sua pele - com meu hálito rouco e quente. 
entreter-me em ter-te aqui pousada em acidente. 
reter sua saliva aguda 
e aguçá-la com a respiração doce e amargurada de minha solidão fremente. 
atirar-me, tresloucado, insensato, aos olhos seus. 
ou cheirar cada pronome possessivo, 
cobertor dessa pele orgulhosa, pólen para minha boca seca...

sábado, 4 de agosto de 2012

O C Í R C U L O


ninguém nem nada sabe o começo ou o fim. 
se há se haverá se houve ou se houvera. do meio sabemos porque estamos nele
o big bang é o começo deste universo. os outros versos mais do que diversos eram poliversos.
e todos tiveram o mesmo re-fim e recomeço: expandiram-se e comprimiram-se e comprimiram-se e expandiram-se
e a cada nova compressão uma nova explosão que deu origem a uma nova expansão.
numa dessas idas e vindas - nascemos... e ainda novos – expandimos
até o dia em que tudo se comprimirá, renascemorreremos novamente. em que ano real devemos estar agora?
talvez no ano inimaginável de duzentos trilhões e trinta bilhões e uns quebradinhos.
será que estamos repetindo os mesmos erros dos universos anteriores, ou os estamos corrigindo –
e se for este o caso, significaria que antes bem antes éramos muito piores?

o que sei é que os universos mortos revivos remortos se cruzam
porque tenho certeza de já tê-la visto – você - umas setecentas milhões de vezes. 
em setecentos milhões de reversos únicos paralelos
em setecentas revidas revividas vezes. e em todas elas e em todos os poliversos
eu me apaixonei por você. assim sem explicação sem lógica parábola história ou fábula.
me apaixonei sem teses e sem saber se eu existiria, existencial ou virtual
mas que se não existisse, não vivesse, não morresse, se eu não fosse,
ou qualquer coisa remotamente humana de mim não pudesse ser
mesmo assim
todos os meus setecentos sonhos, delírios ou premonições com tua imagem
e todas as vezes em que te senti foi e foram como se tudo estivesse justificado
uma prova global espiral ou eclíptica de que sou porque você é
e somos porque tudo está. não entendeu? nem eu – mas é estranho
porque no fundo temos a  misteriosa impressão de que entendemos... tudo 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

carta de demissão

triste
a tristeza mais sutil e mais profunda
como o assobio refinado de uma gaita de blues
abatido
o rosto pesado
e a pele ao redor dos olhos me deixando mais velho
o otimismo tirou férias
a paciência está de folga
e a confiança deu lugar ao desânimo

fechei pra balanço
(vou balançar meu espírito)
estou em concordata

(o tempo é curto – embora seja sempre o mesmo, afinal o tempo é dono de si, o tempo nunca é nada, apenas nos parece ser, enfim, o tempo me parece curto)

fali naquilo que há de pior para se falir :
minhas dívidas são comigo
o papel-moeda corrente é a insatisfação
minha falência é o descrédito
se perguntarem por mim diga que só vou voltar quando eu me perder

acabou
o jeito é renascer
e cometer outros erros
porque os erros atuais já deram pano pra manga
...e a roupa ficou larga

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

fome, intolerância, desespero, grécia e um brasil


os neonazistas gregos sabem que sua imagem no país, na europa e no mundo não é muito agradável. talvez por isso, membros do partido amanhecer dourado resolveram distribuir alimentos para a população sem condições na grécia.

os cidadãos gregos foram os beneficiados por um mutirão que distribuía alimentos. eram produtos básicos. massas, batatas e azeite de oliva.

o grupo de extrema-direita, amanhecer dourado, organizou a distribuição na praça syntagma, no centro da capital. aqueles com duas crianças receberam porções extras de comida. 

o partido tem as características comuns a todos as formações neonazistas da europa. são extremamente nacionalistas. absolutamente contra estrangeiros. sejam eles legais ou não. mas como não podem publicamente falar sobre os legalizados, esbravejam contra os ilegais.

os protestos diários, a insatisfação popular, têm colaborado para que eles cresçam. o partido costuma dizer que a falta de emprego, a decadência econômica, a crise, a falta de comida e dinheiro, são culpa dos tais “invasores”, como são chamados.

o discurso agressivo não tem atraído a simpatia dos gregos. somente daqueles mais desesperados e que já tinham antipatia pelos estrangeiros.

mas agora, o partido grego da extrema-direita, assumidamente neonazista, resolveu provar que  está do lado do povo. grego, claro. somente dos gregos. esse é o objetivo da distribuição gratuita de comida. quem recusaria uma oferta dessa, num momento tão ruim para o país??

kostas é um ateniense desempregado. ele mostra para um jornalista o seu cartão de desempregado. ele diz que foi demitido de uma empresa de segurança que lhe deve salários. 

litsa, outra desempregada, diz que as pessoas não têm dinheiro, nem trabalho. “precisamos comer, temos filhos e contas a pagar. o que posso fazer ?”, pergunta ela.

enquanto o governo grego faz reuniões, dirigentes andam para um lado e para o outro, entram em carros, saem de carros, dão entrevistas, explicam e não explicam, o cidadão comum busca saídas para sobreviver.

como o discurso do amanhecer dourado é proteger o grego, o partido, que tem 18 cadeiras no parlamento, resolveu colocar isso em prática.
“estamos entregando toneladas de comida, de graça”, conta ilias kasidiaris, do partido amanhecer dourado. ele diz que tudo foi comprado de produtores gregos para dar ao povo grego. 

christos pappas, também do partido de extrema-direita da grécia, reafirmou a prioridade do partido. ajudar os gregos. “porque os imigrantes ilegais já tem privilégios que são pagos pelos contribuintes gregos. eles são invasores, uma ameaça para a grécia”, falou pappas. 

os neonazistas organizaram unidades de distribuição semelhantes em outras partes de atenas. e dizem que vão continuar fazendo. eles falam que os contribuintes gregos têm suportado o peso da crise. e por isso são eles que devem ser ajudados.

o grego está no seguinte pé: aceitar ajuda do diabo sem acreditar na filosofia dele.
mas afinal, um bom cristão ajuda a qualquer um, inclusive daria comida para o próprio diabo. então, por que não o contrário?
porque o diabo tem outras intenções.

assunto polêmico? tema para outro artigo, outro dia.

a situação não é muito diferente de políticos - brasileiros para ficar por aqui mesmo - que historicamente distribuíam (distribuem ainda?) cestas básicas para criar um eleitorado fiel.
o povo era tratado como gado. alimentado como tal para que rendesse o necessário para a grande fazenda dos poderosos em nosso país.
agora o problema é outro. a desinformação da mídia caolha e subsidiada por um poder paralelo, louco para governar o país novamente. mas isso também é assunto para outro post.

tofu estragado, china, chuva, olimpíada e rio de janeiro que se cuide


as inundações são fatos na china. é impossível esconder ou falar sobre isso. há dias os moradores de algumas cidades convivem com ruas alagadas e rios que transbordam. mesmo assim, o regime chinês censura os jornais que tocam no assunto. o que acontece lá serve de alerta para o brasil que vai organizar os jogos olímpicos. por quê?
explicações mais adiante.

as chuvas sem fim provocam uma série de consequências.
caos no trânsito, destruição de casas, pessoas que ficam ilhadas. deslizamentos em outras regiões. é impossível que direta ou indiretamente a vida de alguém não seja afetada pelas inundações.

mas os censores chineses acharam melhor falar de outra coisa. eles já haviam bloqueado uma história aprofundada sobre as inundações em pequim. jornais que mandam repórteres entrevistar vítimas das enchentes perderam tempo.

o governo simplesmente cortou e retirou de blogs qualquer menção às matérias. nomes de pessoas mortas em decorrência das chuvas foram substituídos pelos nomes de oficiais chineses que morreram em serviço.

esse tipo de procedimento é bem mais comum do que se imagina. o governo de pequim se cansou das matérias sobre as inundações. não quer mais tanta negatividade. acha que isso contribui para estragar a imagem do país. do regime.

prefere reportagens sobre resgates. o trabalho dos bombeiros. sobre a eficiência do governo em lidar com os problemas. o departamento central de propaganda do partido comunista chinês ordenou que os relatos críticos e comentários sobre inundações fossem reduzidos.

e que jornalistas se concentrassem em dar informações positivas. mas o fato é que as tragédias provocadas pelas chuvas expõem as práticas corruptas de construção em pequim.

jornalistas chineses, censurados, dizem que quase todos os prédios modernos do país são feitos de material precário, que eles chamam de tofu-estragado. prédios que não resistem a uma chuvarada sem fim. as obras olímpicas foram um oceano de corrupção. mas o objetivo foi alcançado. pequim vendeu a imagem de uma grande cidade, organizada (há controvérsias), poderosa, grandiosa, e que fez uma grande olimpíada. mas quem vive na capital, quem é de lá mesmo, sabe o que é.

pequim ficou paralisada pelas chuvas em 2004. e, desde então, o sistema de esgoto não teve melhorias. as autoridades gastaram dezenas de bilhões de dólares na construção de projetos olímpicos, aeroportos e metrôs. algo que todos bateriam palmas. mas por que eu vou comprar uma máquina de lavar se meu encanamento está com vazamento? o que eu faço primeiro?

enfim.
bastaram dias de chuvas intensas para ver que a cidade não está preparada. que não é segura. dezenas de pessoas morreram. mas o governo esconde seus nomes. milhares sofreram prejuízos. mas o governo usa uma peneira para esconder litros e litros de água que teimam em vazar.

e agora, essas chuvas estão mostrando, diariamente, o que realmente estava escondido embaixo do rico tapete chinês.