sexta-feira, 31 de maio de 2013

sobre mentiras e verdades

a mentira sempre foi mais atraente pra mim. mas na maioria das vezes eu escolhia a verdade. escolhia quando minha vida dependia disso. quando a vida de outra pessoa dependia disso. escolhia a verdade quando esta - mesmo mais dolorosa - era a coisa mais justa. como também escolhi a mentira algumas vezes porque achava mais justo. o que me guiou, sempre, foi o meu próprio senso de justiça, nunca se a coisa era certa ou errada. porque contar a verdade é fundamental, mas querer ouvir a verdade não depende de quem conta. o outro pode preferir a mentira. e aí, cabe a você decifrar esse sentimento. e decidir, se é justo ou não, contar o que a pessoa quer ouvir. ou se ela merece, por justiça, ouvir a verdade. ninguém é deus, ninguém é dono de verdades, mas muitos se arvoram o privilégio de saber verdades. eu prefiro ser dono de mentiras. porque ninguém gosta de ser chamado de mentiroso - nem eu. mas o grande mentiroso não tem a desconfiança de ninguém. ninguém sabe que ele mente. já o grande contador de verdades, vive sob desconfianças... porque ninguém acredita que alguém conte sempre a verdade. então, qualquer história mais ou menos absurda, é olhada com desdém. e ninguém acredita.
então, o que seria pior: ser chamado de mentiroso, quando você é, ou ser chamado de mentiroso, quando você não mentiu? se eu fosse mentiroso, ficaria indignado por alguém acreditar em mim e me chamar de verdadeiro? depende. se eu assumo o que sou, me irrito quando me chamam do que não sou. se sou covarde ou não sei quem sou, não posso me irritar quando me chamam de algo que não sou, ou se eu sou um grande mentiroso. invariavelmente, não minto. isso porque eu me esqueço das coisas que invento (por isso virei escritor, tenho a chance de me reler). e um mentiroso precisa sobreviver. se esquecer o que inventa, será pego em contradição depois. eu evito a mentira por questão prática. serei pego depois, por puro esquecimento.
como disse, a mentira é mais sexy. mas escolho a verdade, por sobrevivência. doa a quem doer. sou direto, porque não sei fingir, porque se soubesse, fingiria para proteger quem não quero machucar. sou sincero mesmo quando não preciso, porque se não for, me esquecerei do que disse, e direi outra coisa depois (provavelmente a verdade dessa vez). ser assim me fez amargo, duro, e contraditoriamente ou não, me fez mais livre. e feliz. porque minha felicidade reside na liberdade. e liberdade pra mim é poder escolher. eu escolhi dizer a verdade.   

sexta-feira, 24 de maio de 2013

explicações


há um tempo pra dizer adeus
dizer que algo se perdeu

há um tempo em que sonhamos acordados
e depois acordamos dentro de um pesadelo

há um modo de sorrir e outro de mentir
explicar com firmeza aquilo que nunca aconteceu

há um modo de fugir e outro de encontrar
achar o que não se perdeu e nem se buscava

há respostas para todas as perguntas
mas poucos sabem o que perguntar

há respostas que são fantasias
de uma grande festa sem convidados

não conheço respostas, modos, nem tempos adequados
pra me despedir, sonhar, sorrir, fugir ou viver

não conheço meu futuro...
sei apenas que em meu sangue
corre poesia, liberdade e amor
liberdade, amor e poesia.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

nós (quando ainda era solteiro)


eu não sei. sempre pensei que tudo fosse muito simples. que a complicação vinha de nós.
até o pronome "nós" significa entrelaçamento das extremidades de um fio que envolve algo, com a finalidade de manter esse algo firmemente envolvido, ou para unir dois objetos e mantê-los unidos. também quer dizer a articulação das falanges dos dedos. ou a parte mais dura da madeira. é isso. nós.
nós somos a parte mais dura da madeira, também somos uma articulação dos dedos. nós somos, principalmente, um entrelaçamento, que visa envolver algo, com a finalidade de manter esse algo seguro. para sempre. nós servimos para manter dois objetos unidos. são definições lindas. mas para haver o nós, é preciso haver dois. achar alguém que queira juntar-se a você, que definitivamente queira proteger algo, em comum acordo, com você: filhos? amor?
o que devemos, nós, envolver, proteger, unir e manter unido? eu sempre admirei a solidão. mas não posso ficar com ela porque a solidão não tem ponta. não é corda. não entrelaça, não envolve. não posso ter filhos com a solidão. se os tivesse, se chamariam: antissocial (com hífen ou sem?), introvertida e depressiva... 
a solidão, apenas, é muito dura. a parte mais dura - não da madeira mas - da vida. nós, esse duplo, essa dicotomia, essa dialética, esse di... nós, que prendem, só prendem, amarram, seguram, protegem, por vontade de quem é corda e por concordância de quem põem o dedo para que se faça o nó. no fim das contas pode ser que as coisas sejam mesmo muito simples. talvez eu tenha me contaminado com a mania dos outros de complicar tudo. e se for assim eu sou normal, não sou? sou comum. mas quando meu gato de estimação me olha nessas horas de confusão, me olha com aqueles olhinhos azuis de melancolia felina, languidez gótica, me olha querendo que eu entenda algo absurdamente simples, que não consigo ver, porque não tiro o maldito óculos... quando ele me olha assim... começo a duvidar das minhas dúvidas. acordo, e volto a viver meu sonho.

azul num dia de verão

o gato é um bicho incrível. não conheço todos os gatos do mundo. mas conheço o meu. o nome dele é azul. quando resolvo escrever, ele se aproxima e encosta no meu braço direito. como ele é uma pantufa ambulante, esquenta pra dedéu. e como faz um calor violento, o meu braço se transforma em cozido em questão de segundos. mas ok. a cena dele no meu braço, como se fosse um bebê, olhando a tela do computador e pra mim, com cara de - que troço é esse? - ou cara de - que tédio!! - tudo isso é muito, digamos, fofo. 
mas a porra do meu braço está queimando, então, tenho de afastar o bichano. ele sai, à contragosto. eu continuo a escrever. o orelhudo passeia pela cama, vem em minha direção, olha pra mim com cara de - vou aprontar - e como se eu fosse um pedaço de carne qualquer, simplesmente pisoteia minha barriga. ele adora passar por cima de mim, justamente na barriga - porque eu protejo a região delicada dos homens, senão ele pisaria lá. e o pior: muitas vezes ele passa por cima e para no meio do caminho, pra se espreguiçar. enquanto isso fica na frente da tela do laptop, com a pata e o peso na minha barriga... 
então ele sai. mas insatisfeito, volta e faz o mesmo procedimento. que é repetido umas quatro vezes. isso é um indicativo de que ele quer se encostar no meu braço. ligo o ventilador. ele dá um passeio pelo apartamento. ouço música e retomo aos meus textos. o azul volta, se entrega à cama como a bola se entrega ao gol: se joga na cama, se abre todo... faz charme. já entendi, ele quer brincar. e a brincadeira dele é perseguição. coisa de macho. porrada. ele contra minha mão. qualquer mão, a esquerda ou direita. mas primeiro ele quer que eu o persiga na sala. aí ele se esconde - como se eu não pudesse vê-lo - e quando eu ando, fingindo distraído, ele ataca minhas pernas, como se eu fosse uma gazela inocente e ele fosse um guepardo. depois desse momento national geografic, volto pra cama. ele ainda está ligado em 220. 
ainda não consegui escrever nada. olho pra ele com raiva. ele responde com desdém. recomeço a escrever. cinco minutos depois ele volta. quieto. maroto. fica do meu lado, sem se encostar. olha com preguiça. escrevo um parágrafo assim, sem ser incomodado. mas de repente, ele escuta o barulhinho de uma mensagem recebida no meu celular. enlouquece. como se estivesse em transe cósmico assassino, mia, naquele miado de filmes de terror, se agarra ao meu braço como se fosse durepox, e quer porque quer me morder o punho, a mão... simplesmente gruda no meu braço, miando e agarrado com firmeza. com minha outra mão, agarro sua cabeça e seguro por uns segundos, até passar o efeito da droga que ele tomou. o gato, como por encanto, volta ao normal. 
esses acessos de psicose ele tem sempre que ouve algum barulhinho tipo: assobio, solo do jimmy page, torpedos, eu cantarolando algo, sade cantando smooth operator, ou tédio completo... essa é a coisa mais esquisita que já vi na vida. talvez ele tenha um chip no cérebro colocado por extraterrestres da galáxia de andrômeda, que planejam exterminar a raça humana, e fazem testes com gatos para ver a eficácia do projeto antes de aplicá-lo. é provável que o chip do meu gato esteja com defeito, então ele dispara com qualquer coisa. ou talvez ele seja um gato maluco. não sei... eu gosto mais da teoria dos ets de andrômeda...

sábado, 18 de maio de 2013

o horizonte em naomi


tua têmpora pulsa
pura e suave
em meu peito ansioso

teus olhos - riscos horizontais -
orientam a direção
do meu olhar

dos lugares - ruas
rabisco tuas formas 
nuas
e assino com teu sorriso: 
meu vício quase sem cura

e pra quem procura
dos olhos teus a mordaça que encerra o selo da liberdade
e pra quem - na loucura da paixão que arde -
vê dos olhos teus o crepúsculo,
a brisa que parte,
sente o vento abraçar o poente
feito mãe e filho:
sensação de amor gratuito

assim é, assim vou,
envolto nas façanhas do teu corpo
na luz e nas manhas dos olhos teus
dessas noites e manhãs
em que me vejo:
reflexo louco da paixão serena

seremos um fôlego só
duas bocas que se abraçam
numa fusão atômica
dois corpos ocupando o mesmo espaço

tudo se inicia em teu abraço...

o silêncio de naomi


caladas palavras
que me fogem
aladas palavras 
que me revelam a mim mesmo
o que vou sendo
o que sou
o que sempre fui: apaixonado

e as paixões o que são?
força motriz
arte em estado bruto pulsando e criando

e você é aquilo que a arte bruta procura: a vírgula
porque a vida vale a vírgula
a vida não tem ponto final mas reticências
e você - arte que é
que completa outra parte
atende ao meu ponto de vista
virtude que arde o que já é quente dentro deste estado bruto que fui

e quando teu corpo se parte em mil direções: que má sorte 
e porque te amo - nem marte é distância forte o bastante
e quando você parte - uma parte tua permanece
quando a música sussurra na solidão da noite fria
você surge uma partitura

todas as partes tuas voltam translúcidas:
luzem e iluminam o caminho dos meus pés
clareiam o céu do meu voo
você é minha vírgula
e nela aproveito a pausa e aprecio melhor a respiração e a vida

vírgula que retiro dos versos porque meus versos não precisam de vírgula
pra ser melhor do que sou - minha vida vivida é vírgula -
só preciso de você
ponto final

sumidouro


alguém de sumidouro no azul

naquela corrente de água estreita e pouco extensa:
ribeiro
havia aquele músculo central da circulação do sangue:
coração
pulsando em batidas entrecortadas pela ausência do som:
silêncio
essa energia mecânica que se propaga no ar ou em outros meios materiais cuja fonte é um corpo em vibração causando sensação no órgão da audição:
o som
essa afeição profunda ou zelo e cuidado esse fogo que arde sem se ver essa língua que não fala ou que fala e não se ouve ou que se ouve mas não se entende ou que se entende mas se finge não entender para que se fale de novo porque o que se sente é um pleonasmo saudavelmente vicioso...
amor?
essa pessoa do sexo feminino depois da puberdade altamente evoluída é capaz de deitar num regato ou ribeiro ouvir seu coração bater ansiosamente e entre cada ânsia percebe o silêncio ela
sente falta do som como o corpo sente falta do sono
e da pureza das águas eruditas

há um sumidouro no azul dos teus olhos



acordes


o sol raia
e quando raiar haverá luz para a tua nudez sincera

teu corpo 
por onde meus olhos e dedos
correm ou pulam
teu corpo
e a cor da pele
são uma força
isso nos obriga a copularmos 
de sabores a prazeres e sonhos e dissabores


Possuir teu perfume insensato
dessa tez branca 
túnica sagrada
pele única coberta de odor do amor
dela arranhamos cópias de sons guturais
arco-íris de animais enlouquecidos


sou fora de mim
calado ao lado teu
indo
em calor e calma
cor e lua 
boca noturna e som que abraça a alma

e a certeza - a única - de que o sol raia
e só

sexta-feira, 17 de maio de 2013

beijos na augusta



enquanto corpos se afundam na areia movediça de suas camas
cabeças giram, corpos se contorcem
quadris estão fora do quadro
barrigas contraídas e pernas tremidas:
os olhos lacrimejam e a boca está seca
...

somos feito de carne também
mas algumas pessoas fazem fotossíntese

para que chaves de uma porta se posso atravessá-la?
a vida urbana é arte de desenho abstrato
som de impiedoso grito surdo
dessa rua cheia de pessoas solitárias
das almas nuas
percebe-se o suspiro alcoólico
um sussurro tão suave quanto a chuva fina

delas vê-se a pele umedecida
de gente dançando lentamente
com os braços bêbados escorregando

mãos aparando cada beijo vão

o caminho é sem volta




sexta-feira, 10 de maio de 2013

preguinho antes de ser preguinho (com vídeo)


henrique coelho neto era escritor brasileiro muito famoso até a chegada dos modernistas. foi um dos fundadores da academia brasileira de letras, chegou a presidi-la. tinha prestígio e dezenas de obras publicadas. foi duramente criticado pelos modernistas, que o acusavam de ser demasiado acadêmico, muito distante da realidade nacional. também por causa disso, sua obra caiu no esquecimento.

a história de coelho neto é marcada por dois de seus filhos. o mais velho, mano, de 24 anos, morreu por causa de uma hemorragia interna provocada por uma pancada num jogo de futebol pelo fluminense, em 1922.

''É na dor que, em verdade, sentimos que um filho é carne da nossa carne. Ao vê-lo sofrer vibramos doloridamente e, se ele geme, o seu gemido ressoa-nos no coração.''

esse é um trecho do 'livro da saudade', do escritor coelho neto, em homenagem ao filho mano. 

essa história não termina triste. um dos filhos mais novos de coelho neto, joão, tinha 17 anos na época da morte de mano, e também jogava pelo fluminense, além de praticar vários esportes no clube.
joão coelho neto se tornou o maior atleta da história do fluminense da era amadora. conquistou 357 medalhas em 10 modalidades. ele era um mito.
e sua história ganhou projeção nacional quando disputou, com a seleção brasileira, a primeira copa do mundo, em 1930, no uruguai. o brasil disputou dois jogos. perdeu o primeiro, ganhou o segundo mas foi eliminado na primeira fase. a derrota na estreia, para a iugoslávia, foi por 2x1. aos 17 do segundo tempo joão coelho neto marcou o primeiro gol do brasil em copas. 

''(...) ataque do brasil pela direita... arsenijevic botou pra escanteio... pamplona cobrou e... stefanovic afastou... o rebote é do brasil de novo, boa, fausto, o gigante fausto... que manda a bola pra área... os dois capitães, ivkovic e preguinho disputam a bola e... goooooooolll
preguinho para o brasil...  (...)

isso mesmo: preguinho. contra a bolívia ele ainda marcaria 2 gols na vitória por 4x0.
esse era joão coelho neto. o filho do escritor coelho neto e irmão de mano.

(agora com vídeo, na página do sportscenter no site espn.com.br... aqui está o link - assistam, espero que gostem do resultado)

quinta-feira, 2 de maio de 2013

barcelona 0x7 bayern de munique



é verdade.
o bayern de munique pintou o sete.
messi ficou no banco, guardado a sete chaves.

sete é um número sagrado, perfeito e poderoso, disse pitágoras.
sete também são os sábios da grécia. um dos números mais místicos nas culturas do ocidente e do oriente.

nenhum dos sete anões do barcelona deu conta das sete divindades do bayern que comandam a natureza da bola. todas as sete notas musicais ecoaram no camp nou. como as sete trombetas do apocalipse catalão.

as sepulturas ficam a sete palmos do chão. ali está enterrado o que restou das 7 virtudes do barcelona. time que cometeu sete pecados capitais contra o bayern.

o número sete é um processo de passagem, do conhecido para o desconhecido. é o espírito da terra. a totalidade em movimento. é a transformação. o futebol agora filosofa em alemão.

((esse foi o texto. agora veja aqui a minha crônica do 7 que foi ao ar no sportscenter do dia 01/05/2013, em referência ao placar agregado dos dois jogos entre bayern de munique e barcelona - 4x0 em munique e 3x0 em barcelona))