os olhos desenham o contraste claro-escuro
não é dor, é o mais sublime silêncio
solidão pura
(trabalho do fotógrafo Miguel A. Cuesta de Málaga, na Espanha, tirado do site da zupi - mais nesse link)
cegos somos todos:
amor desejam
mas amar é o balé dos feios
o riso dos amargos
o contrário do inverso
a gravidade que balança o corpo
cabelos no teto do chão
a mão regendo a música da vida
morcegos são os outros
malucos somos todos
(já estas fotos são deste link, também tiradas do site da revista zupi)
o motivo deste blog caleidoscópio: esculpido em carrara é uma homenagem àqueles que dizem uma coisa mas as pessoas entendem outra. não acredite em tudo o que lê e ouve. nem eu acredito em mim. pra ficar claro: caleidoscópio é o nome do blog porque eu quero dizer que meu blog tratará de diversos assuntos... não tem regras. só bom senso. acredito que perguntar ofende, mas acima de tudo, faz pensar. e é isso o que quero: pensar. (eu não uso maiúsculas no blog)
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
bósnia na copa do mundo (na terra do sangue e mel)
no site da espn.com.br é possível assistir ao vídeo que escrevi e editei sobre a bósnia, seleção classificada pela primeira vez para uma Copa do Mundo.
não é uma crônica e não apurei nada de novo. mas ficou muito bom.
recomendo uma clicada nesse link do site...
acima, o mapa da região onde fica a bósnia.
abaixo, foto do filme de angelina jolie, ''in the land of blood and honey'', no Brasil é chamado de ''na terra do amor e do ódio'' - não sei se ''na terra de sangue e mel'' ficaria melhor ou pior... talvez melhor.
o pano de fundo do filme é a guerra da bósnia (link para o trailer). (podem clicar nas imagens...)
não é uma crônica e não apurei nada de novo. mas ficou muito bom.
recomendo uma clicada nesse link do site...
acima, o mapa da região onde fica a bósnia.
abaixo, foto do filme de angelina jolie, ''in the land of blood and honey'', no Brasil é chamado de ''na terra do amor e do ódio'' - não sei se ''na terra de sangue e mel'' ficaria melhor ou pior... talvez melhor.
o pano de fundo do filme é a guerra da bósnia (link para o trailer). (podem clicar nas imagens...)
humanos, ah, humanos!
a palavra é o amor dividido
pela mão
tive poucos amores e muitas palavras
certas palavras doem mais quando se vão
como se um pedaço da minha
vida fosse embora também
palavras, algumas, são espelhos
ditá-las, dizê-las, recitá-las
é como ver a si próprio no fundo da alma
é ter o medo preso à palma da mão:
basta escrevê-la
as palavras não duvidam e não sabem
a sabedoria e a certeza, quando existem,
onde estão?
porque
viver incertezas e
enfrentá-las
é a
massa que esculpe nosso caráter
e palavras são palavras
são inventadas, copiadas, seguidas
os surdos-mudos, todos, só precisam das mãos
o amor é amor
é inventado, copiado, seguido
os humanos só precisam acreditar
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
preguiça de gato
o que é a vida?
deve ser mais do que isso aí, abaixo
mas isso aí abaixo ajuda a explicar muito sobre essa mesma vida
ah, sim...
deve ser mais do que isso aí, abaixo
mas isso aí abaixo ajuda a explicar muito sobre essa mesma vida
ah, sim...
o felino
patas ao vento
flutuam flácidas sob a cômoda e a roupa largada e a cama casada
patas suaves moles e melindrosas
feito aves suntuosas
patas sem medo de quase voar
um voo sem asas
patas medrosas desconfiadas
unhas afiadas à língua felina
e o medo, só o medo, de nada, de tudo
a coragem é o próprio medo de não viver
patas públicas e pisadas particulares
procuram cortinas que sopram notas lúdicas
e as patas param, percebem e perturbam-se
respiram novos ares
sentem a luz e cheiram a novidade
alguém chama
as patas, surpresas, procuram a voz
então
pulam o precipício do vão entre a cômoda e a cama
porque todos sabem - principalmente quem ama -
é preciso responder a quem chama
e por isso as patas - amorosamente -
pisoteiam o corpo desprevenido, quase flácido
enfim
as patas descansam sobre a pele humana
como se fosse o travesseiro
como se fosse o propósito de tudo
uma vida de vento e luz: e o amor é mudo
flutuam flácidas sob a cômoda e a roupa largada e a cama casada
patas suaves moles e melindrosas
feito aves suntuosas
patas sem medo de quase voar
um voo sem asas
patas medrosas desconfiadas
unhas afiadas à língua felina
e o medo, só o medo, de nada, de tudo
a coragem é o próprio medo de não viver
patas públicas e pisadas particulares
procuram cortinas que sopram notas lúdicas
e as patas param, percebem e perturbam-se
respiram novos ares
sentem a luz e cheiram a novidade
alguém chama
as patas, surpresas, procuram a voz
então
pulam o precipício do vão entre a cômoda e a cama
porque todos sabem - principalmente quem ama -
é preciso responder a quem chama
e por isso as patas - amorosamente -
pisoteiam o corpo desprevenido, quase flácido
enfim
as patas descansam sobre a pele humana
como se fosse o travesseiro
como se fosse o propósito de tudo
uma vida de vento e luz: e o amor é mudo
sexta-feira, 4 de outubro de 2013
a vida em improvisos
- quem é você?
- quem eu sou? quem eu sou... pergunta interessante. simples de responder, é só dizer um nome e profissão. mas se levarmos a pergunta a sério... não é tão simples assim para respondê-la
- você não sabe quem é ou não quer dizer?
- eu quero que você entenda: nós raramente sabemos quem somos. mas não vou deixar você sem resposta.
eu sou aquele que só faz o que quer. e todo o resto da minha personalidade, dos meus atos, pensamentos e emoções, tudo, está conectado inevitavelmente a isso. para o bem e para o mal.
- não sei se consigo entender o que você diz...
- claro que não. fui muito profundo e pessoal. mas se você tivesse um jeito de pensar dos enxadristas, me entenderia. enxergar várias jogadas à frente não é fácil, mas quem consegue, compreende tudo mais rapidamente. porque é possível fazer as conexões, é possível unir os pontos soltos. é como saber qual é a música ouvindo apenas a primeira nota.
o silêncio assumiu protagonismo na sala. nem a brisa, que invadia pela janela entreaberta, estava disposta a fazer qualquer ruído.
- e qual é seu estilo musical?
- jazz
- sua música?
- take five, do álbum time out, de 1959...
- escolha óbvia. quero saber qual é sua música de verdade. aquela que somente alguém como você, que só faz o que quer, escolheria...
- ...
- então?
- ...feeling good, com nina simone... eu sou essa música, dentro desse estilo, do tom, do som.
- agora já sei quem é você... e eu, você sabe quem sou?
- você é dança da solidão...
(continua em próximo post...)
site de nina simone
- quem eu sou? quem eu sou... pergunta interessante. simples de responder, é só dizer um nome e profissão. mas se levarmos a pergunta a sério... não é tão simples assim para respondê-la
- você não sabe quem é ou não quer dizer?
- eu quero que você entenda: nós raramente sabemos quem somos. mas não vou deixar você sem resposta.
eu sou aquele que só faz o que quer. e todo o resto da minha personalidade, dos meus atos, pensamentos e emoções, tudo, está conectado inevitavelmente a isso. para o bem e para o mal.
- não sei se consigo entender o que você diz...
- claro que não. fui muito profundo e pessoal. mas se você tivesse um jeito de pensar dos enxadristas, me entenderia. enxergar várias jogadas à frente não é fácil, mas quem consegue, compreende tudo mais rapidamente. porque é possível fazer as conexões, é possível unir os pontos soltos. é como saber qual é a música ouvindo apenas a primeira nota.
o silêncio assumiu protagonismo na sala. nem a brisa, que invadia pela janela entreaberta, estava disposta a fazer qualquer ruído.
- e qual é seu estilo musical?
- jazz
- sua música?
- take five, do álbum time out, de 1959...
- escolha óbvia. quero saber qual é sua música de verdade. aquela que somente alguém como você, que só faz o que quer, escolheria...
- ...
- então?
- ...feeling good, com nina simone... eu sou essa música, dentro desse estilo, do tom, do som.
- agora já sei quem é você... e eu, você sabe quem sou?
- você é dança da solidão...
(continua em próximo post...)
site de nina simone
segunda-feira, 2 de setembro de 2013
poesia em dias de guerra
tudo certo e nada resolvido
quem procura paz semeia guerra
a fúria de um orvalho na pele
vale a calma do coração frio
a insensatez é regra nos tribunais do corpo
as cores se misturam sem se tocar
o sangue é dividido por religiões e códigos territoriais
a guerra é seu sistema de vida
há vida além do vídeo
os desejos também são virtuais
iguais, são todos padrões da mesma lógica
sem mágica, sem tempero ou ternura
ser azul não quer dizer anti-verde
nem loucura representa só insanidade
a crueldade também é lógica
não há como deixar de ser humano
em dias de guerra
faça amor ou poesia
dois tiros de rimas roucas
ou uma bomba de bom senso
vencidos foram todos
((cliquem aqui e vejam como comprar meu livro de contos))
quem procura paz semeia guerra
a fúria de um orvalho na pele
vale a calma do coração frio
a insensatez é regra nos tribunais do corpo
as cores se misturam sem se tocar
o sangue é dividido por religiões e códigos territoriais
a guerra é seu sistema de vida
há vida além do vídeo
os desejos também são virtuais
iguais, são todos padrões da mesma lógica
sem mágica, sem tempero ou ternura
ser azul não quer dizer anti-verde
nem loucura representa só insanidade
a crueldade também é lógica
não há como deixar de ser humano
em dias de guerra
faça amor ou poesia
dois tiros de rimas roucas
ou uma bomba de bom senso
vencidos foram todos
((cliquem aqui e vejam como comprar meu livro de contos))
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
sobre a perda de tempo
abri os olhos
a primeira coisa que vi: um gato pensativo, olhando para mim
queria saber o que pensam os gatos quando olham as pessoas dormindo
queria saber outras coisas menos importantes
por exemplo: por que não existe uma tecla pausa no tempo?
eu queria abrir os olhos, levantar, fazer mil coisas
ou passar muitas horas fazendo nada
e quando me deitasse novamente
queria que não tivesse passado nem um minuto
não existe tecla pausa no tempo
não é possível retornar a uma cena e refazê-la
para isso existe o pedido de desculpas
a vida nem sempre é ensaio. ou nunca é.
fez, tá feito
já quis aproveitar cada segundo do meu tempo
exagerei
transformei meu tempo em uma empresa de produção em massa
uma corporação que só visava lucro, rendimento, eficiência e produção
porque tempo era dinheiro
já desperdicei meu tempo
o transformei numa sociedade alternativa hippie
de capitalista a hippie, quero mesmo é ser índio
hoje prefiro não me preocupar com o tempo
desperdício é fazer o que não se quer fazer
se quero não fazer nada, não é desperdício
se quero ocupar-me 24 horas, eu faço
o tempo é um devorador que nunca sacia
cabe a mim decidir se quero ser o alimentador
ou a comida
meu tempo, hoje e para sempre,
só vai se alimentar de sushi
porque é isso o que eu quero
((cliquem aqui e vejam como comprar meu livro de contos))
a primeira coisa que vi: um gato pensativo, olhando para mim
queria saber o que pensam os gatos quando olham as pessoas dormindo
queria saber outras coisas menos importantes
por exemplo: por que não existe uma tecla pausa no tempo?
eu queria abrir os olhos, levantar, fazer mil coisas
ou passar muitas horas fazendo nada
e quando me deitasse novamente
queria que não tivesse passado nem um minuto
não existe tecla pausa no tempo
não é possível retornar a uma cena e refazê-la
para isso existe o pedido de desculpas
a vida nem sempre é ensaio. ou nunca é.
fez, tá feito
já quis aproveitar cada segundo do meu tempo
exagerei
transformei meu tempo em uma empresa de produção em massa
uma corporação que só visava lucro, rendimento, eficiência e produção
porque tempo era dinheiro
já desperdicei meu tempo
o transformei numa sociedade alternativa hippie
de capitalista a hippie, quero mesmo é ser índio
hoje prefiro não me preocupar com o tempo
desperdício é fazer o que não se quer fazer
se quero não fazer nada, não é desperdício
se quero ocupar-me 24 horas, eu faço
o tempo é um devorador que nunca sacia
cabe a mim decidir se quero ser o alimentador
ou a comida
meu tempo, hoje e para sempre,
só vai se alimentar de sushi
porque é isso o que eu quero
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sábado, 20 de julho de 2013
contos de suspense, amor, política, psicologia, filosofia, vida e morte - 1 (trecho)
(saibam como comprar meu livro digital de contos clicando aqui)
- Sim - falou, sem emoção e sem paciência
- Sim - falou, sem emoção e sem paciência
- Vai ter de convencer
- Sou profissional
- Vai ter de ser rápido, limpo...
- Profissional
- Duzentos mil agora...
- Opa, é gente graúda?...
- E oitocentos mil, um passaporte, um carro te esperando no Uruguai e um
apartamento em Portugal, logo depois. Tudo pronto, em seu nome, se você aceitar
e cumprir o que quero.
Silêncio. Suspiro. Fala.
- Quem eu tenho que assassinar?
- A mim.
quarta-feira, 10 de julho de 2013
os suicidas e outras histórias (comprem!!!)
meu livro de contos está à venda no site da saraiva.
http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/4962839
o livro é digital e custa 2,99
para ler o livro precisa baixar o aplicativo da saraiva... o link para fazer isso está abaixo
http://www.livrariasaraiva.com.br/livros-digitais/saiba-mais-reader.htm
você pode ter o aplicativo no ipod, ipad, iphone, smartphone, laptop etc
funciona assim: você compra o livro digital. depois de seu cartão ser aceito, uns 15 ou 20 minutos depois, o livro irá para seu dispositivo onde você tem o aplicativo da saraiva reader.
aí você abre seu aplicativo com a mesma senha e email que você usa no site da saraiva.
o meu livro já estará lá, pronto para você ler... é o que promete o pessoal da saraiva
qualquer coisa, reclamem com eles...
Instruções para obtenção do Livro Digital:
- Abra o aplicativo com o mesmo usuário e senha de seu acesso Saraiva. O download do seu livro iniciará automaticamente.
- Se você não possui o aplicativo instalado, acesse o link http://www.livrariasaraiva.com.br/livros-digitais/saiba-mais-reader.htm e instale agora gratuitamente.
ah, claro, para comprar no site da saraiva é preciso se cadastrar lá.
boa compra e boa leitura do meu livro (http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/4962839) de contos!!!
terça-feira, 25 de junho de 2013
cru (trecho de um conto meu, um conto violento)
((se gostaram, cliquem aqui e vejam como comprar meu livro de contos, só 2,99, livro digital))
dois dias antes, a morte
Dalinha entra. A amiga não chegou. Deve
estar bebendo com o namorado.
Louça, roupas, uma barata mais adiante, vou
descansar. Tira a roupa. Barriguinha chata. (Gorda?). Será que é essa barriga
que não me traz felicidade? Mas os homens me acham gostosa. Quando eu ponho a
bermuda ciclista preta, vixe, eles só faltam me comer ali mesmo na rua. Minha bunda é grande. Mas excita. Os
homens gostam de comer a gente por trás. Por isso valorizam a bunda. Na
verdade, quem só valoriza a bunda, e só a bunda, não consegue encarar a mulher
de frente, olhos nos olhos. Não consegue. Na hora do amasso, eles fecham os olhos e me lambem toda. Não, eles não têm tempo de olhar nos olhos.
Minha bunda é enorme. Mas excita. Só aos podres homens, só aos podres. Dalinha deita
só de calcinha e sutiã. O sofá range. Liga a tevê com o controle remoto. Mas
seu pensamento não olha o que está nas imagens televisivas.
Olha para um sorriso que lhe está sorrindo. Dalinha se assusta mas não grita. Ela conhece aquele sorriso. O vulto se aproxima.
Olha para um sorriso que lhe está sorrindo. Dalinha se assusta mas não grita. Ela conhece aquele sorriso. O vulto se aproxima.
- Você está sorrindo de safado, né! Só
porque eu tô pelada. Mas eu não ligo, não, pode olhar. Quê que cê veio fazer
aqui?
O vulto passa por ela, cruza a sala até
a cozinha. Dalinha vai atrás. Entra na cozinha. E vê algo cortando sua
garganta. Rápido. Suas mãos agarram o pescoço. As mãos absolutamente vermelhas.
O assassino incrivelmente gélido assistindo ao horror de Dalinha. Chorando sem
gemer, sem entender. Dalinha,
horrorizada com seu próprio sangue jorrando, não consegue sair do lugar. Se ajoelha e continua apertando o pescoço. Aí ela olha nos olhos do assassino. Ela entende. Entende que vai morrer. Fecha os olhos e espera o golpe final. Ela não vê que o assassino acertou sua cabeça com um taco de madeira, que as crianças usam pra jogar, e o criminoso usou pra rachar o crânio de Dália Deneide Dorval. Foi carregada pra cama. E, cuidadosamente, foi retirado o sutiã, e depois a calcinha. Nua, de pernas abertas, o assassino rasga o envelope de camisinhas, põe uma e investe na falecida. Transa freneticamente.
Insatisfeito, vira a moça, morde sua bunda com inexplicável romantismo, misturado a estocadas violentas quando a penetra por trás. De novo por trás, ele arrebenta o ânus da moça. Parece irritado com isso. A cada estocada ele bate na Dalinha. Socos nas costas. Se cansa. Retira a camisinha com cuidado. Vai ao banheiro e a enrola em papel higiênico, guardando no bolso de dentro de sua capa.
Ele veste a capa, e vai embora, mas antes ele olha a vítima, se aproxima, e chuta-lhe violentamente a bunda.
horrorizada com seu próprio sangue jorrando, não consegue sair do lugar. Se ajoelha e continua apertando o pescoço. Aí ela olha nos olhos do assassino. Ela entende. Entende que vai morrer. Fecha os olhos e espera o golpe final. Ela não vê que o assassino acertou sua cabeça com um taco de madeira, que as crianças usam pra jogar, e o criminoso usou pra rachar o crânio de Dália Deneide Dorval. Foi carregada pra cama. E, cuidadosamente, foi retirado o sutiã, e depois a calcinha. Nua, de pernas abertas, o assassino rasga o envelope de camisinhas, põe uma e investe na falecida. Transa freneticamente.
Insatisfeito, vira a moça, morde sua bunda com inexplicável romantismo, misturado a estocadas violentas quando a penetra por trás. De novo por trás, ele arrebenta o ânus da moça. Parece irritado com isso. A cada estocada ele bate na Dalinha. Socos nas costas. Se cansa. Retira a camisinha com cuidado. Vai ao banheiro e a enrola em papel higiênico, guardando no bolso de dentro de sua capa.
Ele veste a capa, e vai embora, mas antes ele olha a vítima, se aproxima, e chuta-lhe violentamente a bunda.
E desaparece.
segunda-feira, 17 de junho de 2013
protesto
gritar é sempre o jeito mais fácil para ser ouvido
fácil nem sempre é melhor
mas as mudanças nem sempre começam com o que é melhor
são jovens que transformaram as ruas em arquibancadas
não para torcer para o brasil
mas para criticá-lo
e o brasil criticado não era a seleção.
esse brasil é dos transportes públicos, dos gastos públicos, e seus impublicáveis valores.
a turma dos 20 centavos grita contra o grupo dos 7 bilhões nos estádios.
o que dá pra fazer com 2,95 no rio... ou 3,20 em são paulo?
o que dá pra fazer com os 7 bilhões que reformaram os estádios?
a polícia, que é povo também, acata ordens. ordens parecidas com às de tempos ditatoriais
disso, pouco mudou. a herança ainda é pesada
há mãos que estrangulam o trato, que partilham o mesmo aperto financeiro ou político
mãos também servem para abraçar a paz, para alcançar os pés, tocar o céu e beijar o mar do futebol
algumas respostas são fantasias de uma grande festa sem convidados, gente sem teto para que houvesse teto no palco da bola
não se conhecem respostas, nem modos, ou tempos adequados
para uma despedida, ou para sonhar, reprimir, protestar, sorrir, fugir ou viver
mas há tempo para aprender tudo isso
-------------------------------------------------------------------------------------------
******((esse texto foi editado e foi ao ar no sportscenter - 16/06/13 - e no pontapé inicial da espn-brasil no dia seguinte pela manhã. não posso reproduzir o vídeo, nem dar um link para ele aqui por questões de direitos de imagem de quem comprou a copa das confederações - há imagens no vídeo que pertencem a competição
outra coisa: reutilizei versos meus e os modifiquei para este texto de hoje))
terça-feira, 11 de junho de 2013
de humanos
a paciência é uma virtude.
a falta de atitude é um defeito.
tudo o que é sempre desfeito revela ansiedade.
qualidade é não fugir da altitude.
pude ver que pular do precipício não tem volta.
quem se solta à princípio não é precipitado,
a menos que tenha registrado princípios inalcançáveis.
estáveis homens são aqueles que não saem do lugar.
amar sem paciência não é possível.
plausível é passar o dia apaixonado, e,
à noite, sonhar acordado.
apaixonado não tem paciência.
mas teu sorriso e toque e pele e cheiro e voz
acalmam toda frustração boba.
duro é viver sem isso.
domingo, 9 de junho de 2013
f ô l e g o
essa boca me abraçando avermelhando-se noutro rosto
essa textura exata noutro lábio rosa noutra boca sangue
noutro sangue rosa
noutra
essa louca movimentação em transe parada que parava
e não sabia que era tanto até que outros todos santos
lhe pediram muito que deixasse que beijassem
todas
bocas
nessa boca
textura exata de pele e carne e cor e sangue e louca e solta e noutra boca se abraçando
rindo rindos esses lábios menta mentalizarão todos os
instantes uma fração de uma pintura um tempo neutro
noutra pintura noutro rosto lindo noutro jeito e hora
noutra boca rara essa textura louca noutro vermelho exato
talvez as bocas partam-se em vinte mil frações
e
sombras talvez venham roçar meus desejos
talvez
talvez outro rosto e boca desses beijos noutra vez
sejam meus
entrebraços
(personagem de um conto meu ainda incompleto)
tenho medo de existir
viver é uma agonia
não há nada pior
do que mexer o braço
e pensar que estou
mexendo o raio do braço
e por culpa do pensamento
eu desisto de mexer
a porra do braço
o medo é meu segredo de existir
e a agonia
é meu sorriso triste no café da manhã
mas após toda dor
quando vejo que você
de mim não desiste
desacredito de todo descrédito
e me espalho no arco-íris
do nosso amor
correr
viver é não conseguir. porque viver é tentar... a vida é todo o processo de tentativas. é aquela história de que o barato do corredor não é chegar, mas sim, correr. evidentemente que o cara quer chegar, cruzar a linha, e se possível ganhar a corrida. mas quem busca vitórias - e só vitórias - já pensa na próxima corrida (título) quando termina uma. quem pensa na corrida, curte cada passada que dá, cada segundo de suor contra o vento. curte, aproveita, sente, vibra, vive o momento. depois que termina, o corredor apaixonado pensa em correr de novo. quando o cara que só busca títulos tiver conquistado tudo, ou não tiver mais chances de títulos, o que fará? provavelmente estará satisfeito com sua carreira. se aposentará.
o problema é que da vida não podemos pedir aposentaria. seria suicídio.
sexta-feira, 31 de maio de 2013
sobre mentiras e verdades
a mentira sempre foi mais atraente pra mim. mas na maioria das vezes eu escolhia a verdade. escolhia quando minha vida dependia disso. quando a vida de outra pessoa dependia disso. escolhia a verdade quando esta - mesmo mais dolorosa - era a coisa mais justa. como também escolhi a mentira algumas vezes porque achava mais justo. o que me guiou, sempre, foi o meu próprio senso de justiça, nunca se a coisa era certa ou errada. porque contar a verdade é fundamental, mas querer ouvir a verdade não depende de quem conta. o outro pode preferir a mentira. e aí, cabe a você decifrar esse sentimento. e decidir, se é justo ou não, contar o que a pessoa quer ouvir. ou se ela merece, por justiça, ouvir a verdade. ninguém é deus, ninguém é dono de verdades, mas muitos se arvoram o privilégio de saber verdades. eu prefiro ser dono de mentiras. porque ninguém gosta de ser chamado de mentiroso - nem eu. mas o grande mentiroso não tem a desconfiança de ninguém. ninguém sabe que ele mente. já o grande contador de verdades, vive sob desconfianças... porque ninguém acredita que alguém conte sempre a verdade. então, qualquer história mais ou menos absurda, é olhada com desdém. e ninguém acredita.
então, o que seria pior: ser chamado de mentiroso, quando você é, ou ser chamado de mentiroso, quando você não mentiu? se eu fosse mentiroso, ficaria indignado por alguém acreditar em mim e me chamar de verdadeiro? depende. se eu assumo o que sou, me irrito quando me chamam do que não sou. se sou covarde ou não sei quem sou, não posso me irritar quando me chamam de algo que não sou, ou se eu sou um grande mentiroso. invariavelmente, não minto. isso porque eu me esqueço das coisas que invento (por isso virei escritor, tenho a chance de me reler). e um mentiroso precisa sobreviver. se esquecer o que inventa, será pego em contradição depois. eu evito a mentira por questão prática. serei pego depois, por puro esquecimento.
como disse, a mentira é mais sexy. mas escolho a verdade, por sobrevivência. doa a quem doer. sou direto, porque não sei fingir, porque se soubesse, fingiria para proteger quem não quero machucar. sou sincero mesmo quando não preciso, porque se não for, me esquecerei do que disse, e direi outra coisa depois (provavelmente a verdade dessa vez). ser assim me fez amargo, duro, e contraditoriamente ou não, me fez mais livre. e feliz. porque minha felicidade reside na liberdade. e liberdade pra mim é poder escolher. eu escolhi dizer a verdade.
sexta-feira, 24 de maio de 2013
explicações
há um tempo pra dizer adeus
dizer que algo se perdeu
há um tempo em que sonhamos acordados
e depois acordamos dentro de um pesadelo
há um modo de sorrir e outro de mentir
explicar com firmeza aquilo que nunca aconteceu
há um modo de fugir e outro de encontrar
achar o que não se perdeu e nem se buscava
há respostas para todas as perguntas
mas poucos sabem o que perguntar
há respostas que são fantasias
de uma grande festa sem convidados
não conheço respostas, modos, nem tempos adequados
pra me despedir, sonhar, sorrir, fugir ou viver
não conheço meu futuro...
sei apenas que em meu sangue
corre poesia, liberdade e amor
liberdade, amor e poesia.
quinta-feira, 23 de maio de 2013
nós (quando ainda era solteiro)
eu não sei. sempre pensei que tudo fosse muito simples. que a complicação vinha de nós.
até o pronome "nós" significa entrelaçamento das extremidades de um fio que envolve algo, com a finalidade de manter esse algo firmemente envolvido, ou para unir dois objetos e mantê-los unidos. também quer dizer a articulação das falanges dos dedos. ou a parte mais dura da madeira. é isso. nós.
nós somos a parte mais dura da madeira, também somos uma articulação dos dedos. nós somos, principalmente, um entrelaçamento, que visa envolver algo, com a finalidade de manter esse algo seguro. para sempre. nós servimos para manter dois objetos unidos. são definições lindas. mas para haver o nós, é preciso haver dois. achar alguém que queira juntar-se a você, que definitivamente queira proteger algo, em comum acordo, com você: filhos? amor?
o que devemos, nós, envolver, proteger, unir e manter unido? eu sempre admirei a solidão. mas não posso ficar com ela porque a solidão não tem ponta. não é corda. não entrelaça, não envolve. não posso ter filhos com a solidão. se os tivesse, se chamariam: antissocial (com hífen ou sem?), introvertida e depressiva...
a solidão, apenas, é muito dura. a parte mais dura - não da madeira mas - da vida. nós, esse duplo, essa dicotomia, essa dialética, esse di... nós, que prendem, só prendem, amarram, seguram, protegem, por vontade de quem é corda e por concordância de quem põem o dedo para que se faça o nó. no fim das contas pode ser que as coisas sejam mesmo muito simples. talvez eu tenha me contaminado com a mania dos outros de complicar tudo. e se for assim eu sou normal, não sou? sou comum. mas quando meu gato de estimação me olha nessas horas de confusão, me olha com aqueles olhinhos azuis de melancolia felina, languidez gótica, me olha querendo que eu entenda algo absurdamente simples, que não consigo ver, porque não tiro o maldito óculos... quando ele me olha assim... começo a duvidar das minhas dúvidas. acordo, e volto a viver meu sonho.
azul num dia de verão
o gato é um bicho incrível. não conheço todos os gatos do mundo. mas conheço o meu. o nome dele é azul. quando resolvo escrever, ele se aproxima e encosta no meu braço direito. como ele é uma pantufa ambulante, esquenta pra dedéu. e como faz um calor violento, o meu braço se transforma em cozido em questão de segundos. mas ok. a cena dele no meu braço, como se fosse um bebê, olhando a tela do computador e pra mim, com cara de - que troço é esse? - ou cara de - que tédio!! - tudo isso é muito, digamos, fofo.
mas a porra do meu braço está queimando, então, tenho de afastar o bichano. ele sai, à contragosto. eu continuo a escrever. o orelhudo passeia pela cama, vem em minha direção, olha pra mim com cara de - vou aprontar - e como se eu fosse um pedaço de carne qualquer, simplesmente pisoteia minha barriga. ele adora passar por cima de mim, justamente na barriga - porque eu protejo a região delicada dos homens, senão ele pisaria lá. e o pior: muitas vezes ele passa por cima e para no meio do caminho, pra se espreguiçar. enquanto isso fica na frente da tela do laptop, com a pata e o peso na minha barriga...
então ele sai. mas insatisfeito, volta e faz o mesmo procedimento. que é repetido umas quatro vezes. isso é um indicativo de que ele quer se encostar no meu braço. ligo o ventilador. ele dá um passeio pelo apartamento. ouço música e retomo aos meus textos. o azul volta, se entrega à cama como a bola se entrega ao gol: se joga na cama, se abre todo... faz charme. já entendi, ele quer brincar. e a brincadeira dele é perseguição. coisa de macho. porrada. ele contra minha mão. qualquer mão, a esquerda ou direita. mas primeiro ele quer que eu o persiga na sala. aí ele se esconde - como se eu não pudesse vê-lo - e quando eu ando, fingindo distraído, ele ataca minhas pernas, como se eu fosse uma gazela inocente e ele fosse um guepardo. depois desse momento national geografic, volto pra cama. ele ainda está ligado em 220.
ainda não consegui escrever nada. olho pra ele com raiva. ele responde com desdém. recomeço a escrever. cinco minutos depois ele volta. quieto. maroto. fica do meu lado, sem se encostar. olha com preguiça. escrevo um parágrafo assim, sem ser incomodado. mas de repente, ele escuta o barulhinho de uma mensagem recebida no meu celular. enlouquece. como se estivesse em transe cósmico assassino, mia, naquele miado de filmes de terror, se agarra ao meu braço como se fosse durepox, e quer porque quer me morder o punho, a mão... simplesmente gruda no meu braço, miando e agarrado com firmeza. com minha outra mão, agarro sua cabeça e seguro por uns segundos, até passar o efeito da droga que ele tomou. o gato, como por encanto, volta ao normal.
esses acessos de psicose ele tem sempre que ouve algum barulhinho tipo: assobio, solo do jimmy page, torpedos, eu cantarolando algo, sade cantando smooth operator, ou tédio completo... essa é a coisa mais esquisita que já vi na vida. talvez ele tenha um chip no cérebro colocado por extraterrestres da galáxia de andrômeda, que planejam exterminar a raça humana, e fazem testes com gatos para ver a eficácia do projeto antes de aplicá-lo. é provável que o chip do meu gato esteja com defeito, então ele dispara com qualquer coisa. ou talvez ele seja um gato maluco. não sei... eu gosto mais da teoria dos ets de andrômeda...
mas a porra do meu braço está queimando, então, tenho de afastar o bichano. ele sai, à contragosto. eu continuo a escrever. o orelhudo passeia pela cama, vem em minha direção, olha pra mim com cara de - vou aprontar - e como se eu fosse um pedaço de carne qualquer, simplesmente pisoteia minha barriga. ele adora passar por cima de mim, justamente na barriga - porque eu protejo a região delicada dos homens, senão ele pisaria lá. e o pior: muitas vezes ele passa por cima e para no meio do caminho, pra se espreguiçar. enquanto isso fica na frente da tela do laptop, com a pata e o peso na minha barriga...
então ele sai. mas insatisfeito, volta e faz o mesmo procedimento. que é repetido umas quatro vezes. isso é um indicativo de que ele quer se encostar no meu braço. ligo o ventilador. ele dá um passeio pelo apartamento. ouço música e retomo aos meus textos. o azul volta, se entrega à cama como a bola se entrega ao gol: se joga na cama, se abre todo... faz charme. já entendi, ele quer brincar. e a brincadeira dele é perseguição. coisa de macho. porrada. ele contra minha mão. qualquer mão, a esquerda ou direita. mas primeiro ele quer que eu o persiga na sala. aí ele se esconde - como se eu não pudesse vê-lo - e quando eu ando, fingindo distraído, ele ataca minhas pernas, como se eu fosse uma gazela inocente e ele fosse um guepardo. depois desse momento national geografic, volto pra cama. ele ainda está ligado em 220.
ainda não consegui escrever nada. olho pra ele com raiva. ele responde com desdém. recomeço a escrever. cinco minutos depois ele volta. quieto. maroto. fica do meu lado, sem se encostar. olha com preguiça. escrevo um parágrafo assim, sem ser incomodado. mas de repente, ele escuta o barulhinho de uma mensagem recebida no meu celular. enlouquece. como se estivesse em transe cósmico assassino, mia, naquele miado de filmes de terror, se agarra ao meu braço como se fosse durepox, e quer porque quer me morder o punho, a mão... simplesmente gruda no meu braço, miando e agarrado com firmeza. com minha outra mão, agarro sua cabeça e seguro por uns segundos, até passar o efeito da droga que ele tomou. o gato, como por encanto, volta ao normal.
esses acessos de psicose ele tem sempre que ouve algum barulhinho tipo: assobio, solo do jimmy page, torpedos, eu cantarolando algo, sade cantando smooth operator, ou tédio completo... essa é a coisa mais esquisita que já vi na vida. talvez ele tenha um chip no cérebro colocado por extraterrestres da galáxia de andrômeda, que planejam exterminar a raça humana, e fazem testes com gatos para ver a eficácia do projeto antes de aplicá-lo. é provável que o chip do meu gato esteja com defeito, então ele dispara com qualquer coisa. ou talvez ele seja um gato maluco. não sei... eu gosto mais da teoria dos ets de andrômeda...
sábado, 18 de maio de 2013
o horizonte em naomi
tua têmpora pulsa
pura e suave
em meu peito ansioso
teus olhos - riscos horizontais -
orientam a direção
do meu olhar
dos lugares - ruas
rabisco tuas formas
nuas
e assino com teu sorriso:
meu vício quase sem cura
e pra quem procura
dos olhos teus a mordaça que encerra o selo da liberdade
e pra quem - na loucura da paixão que arde -
vê dos olhos teus o crepúsculo,
a brisa que parte,
sente o vento abraçar o poente
feito mãe e filho:
sensação de amor gratuito
assim é, assim vou,
envolto nas façanhas do teu corpo
na luz e nas manhas dos olhos teus
dessas noites e manhãs
em que me vejo:
reflexo louco da paixão serena
seremos um fôlego só
duas bocas que se abraçam
numa fusão atômica
dois corpos ocupando o mesmo espaço
tudo se inicia em teu abraço...
o silêncio de naomi
caladas palavras
que me fogem
aladas palavras
que me revelam a mim mesmo
o que vou sendo
o que sou
o que sempre fui: apaixonado
e as paixões o que são?
força motriz
arte em estado bruto pulsando e criando
e você é aquilo que a arte bruta procura: a vírgula
porque a vida vale a vírgula
a vida não tem ponto final mas reticências
e você - arte que é
que completa outra parte
atende ao meu ponto de vista
virtude que arde o que já é quente dentro deste estado bruto que fui
e quando teu corpo se parte em mil direções: que má sorte
e porque te amo - nem marte é distância forte o bastante
e quando você parte - uma parte tua permanece
quando a música sussurra na solidão da noite fria
você surge uma partitura
todas as partes tuas voltam translúcidas:
luzem e iluminam o caminho dos meus pés
clareiam o céu do meu voo
você é minha vírgula
e nela aproveito a pausa e aprecio melhor a respiração e a vida
vírgula que retiro dos versos porque meus versos não precisam de vírgula
pra ser melhor do que sou - minha vida vivida é vírgula -
só preciso de você
ponto final
sumidouro
alguém de sumidouro no azul
naquela
corrente de água estreita e pouco extensa:
ribeiro
havia aquele
músculo central da circulação do sangue:
coração
pulsando em
batidas entrecortadas pela ausência do som:
silêncio
essa
energia mecânica que se propaga no ar ou em outros meios materiais cuja fonte é
um corpo em vibração causando sensação no órgão da audição:
o som
essa afeição profunda ou zelo e
cuidado esse fogo que arde sem se ver essa língua que não fala ou que fala
e não se ouve ou que se ouve mas não se entende ou que se entende mas se finge
não entender para que se fale de novo porque o que se sente é um pleonasmo
saudavelmente vicioso...
amor?
essa pessoa do sexo feminino
depois da puberdade altamente evoluída é capaz de deitar num regato ou ribeiro
ouvir seu coração bater ansiosamente e entre
cada ânsia percebe o silêncio ela
sente falta do som como o corpo sente falta do sono
e da pureza
das águas eruditas
há um sumidouro no azul dos teus olhos
acordes
o sol raia
e quando raiar haverá luz para a tua nudez sincera
teu corpo
por onde meus olhos e dedos
correm ou pulam
teu corpo
e a cor da pele
são uma força
isso nos obriga a copularmos
de sabores a prazeres e sonhos e dissabores
Possuir teu perfume insensato
dessa tez branca
túnica sagrada
pele única coberta de odor do amor
dela arranhamos cópias de sons guturais
arco-íris de animais enlouquecidos
sou fora de mim
calado ao lado teu
indo
em calor e calma
cor e lua
boca noturna e som que abraça a alma
e a certeza - a única - de que o sol raia
e só
sexta-feira, 17 de maio de 2013
beijos na augusta
enquanto corpos se afundam na areia movediça de suas camas
cabeças giram, corpos se contorcem
quadris estão fora do quadro
barrigas contraídas e pernas tremidas:
os olhos lacrimejam e a boca está seca
...
somos feito de carne também
mas algumas pessoas fazem fotossíntese
para que chaves de uma porta se posso atravessá-la?
a vida urbana é arte de desenho abstrato
som de impiedoso grito surdo
dessa rua cheia de pessoas solitárias
das almas nuas
percebe-se o suspiro alcoólico
um sussurro tão suave quanto a chuva fina
delas vê-se a pele umedecida
de gente dançando lentamente
com os braços bêbados escorregando
mãos aparando cada beijo vão
o caminho é sem volta
sexta-feira, 10 de maio de 2013
preguinho antes de ser preguinho (com vídeo)
henrique coelho neto era escritor brasileiro muito famoso até a chegada dos modernistas. foi um dos fundadores da academia brasileira de letras, chegou a presidi-la. tinha prestígio e dezenas de obras publicadas. foi duramente criticado pelos modernistas, que o acusavam de ser demasiado acadêmico, muito distante da realidade nacional. também por causa disso, sua obra caiu no esquecimento.
a história de coelho neto é marcada por dois de seus filhos. o mais velho, mano, de 24 anos, morreu por causa de uma hemorragia interna provocada por uma pancada num jogo de futebol pelo fluminense, em 1922.
''É na dor que, em verdade, sentimos que um filho é carne da nossa carne. Ao vê-lo sofrer vibramos doloridamente e, se ele geme, o seu gemido ressoa-nos no coração.''
esse é um trecho do 'livro da saudade', do escritor coelho neto, em homenagem ao filho mano.
essa história não termina triste. um dos filhos mais novos de coelho neto, joão, tinha 17 anos na época da morte de mano, e também jogava pelo fluminense, além de praticar vários esportes no clube.
joão coelho neto se tornou o maior atleta da história do fluminense da era amadora. conquistou 357 medalhas em 10 modalidades. ele era um mito.
e sua história ganhou projeção nacional quando disputou, com a seleção brasileira, a primeira copa do mundo, em 1930, no uruguai. o brasil disputou dois jogos. perdeu o primeiro, ganhou o segundo mas foi eliminado na primeira fase. a derrota na estreia, para a iugoslávia, foi por 2x1. aos 17 do segundo tempo joão coelho neto marcou o primeiro gol do brasil em copas.
''(...) ataque do brasil pela direita... arsenijevic botou pra escanteio... pamplona cobrou e... stefanovic afastou... o rebote é do brasil de novo, boa, fausto, o gigante fausto... que manda a bola pra área... os dois capitães, ivkovic e preguinho disputam a bola e... goooooooolll
preguinho para o brasil... (...)
isso mesmo: preguinho. contra a bolívia ele ainda marcaria 2 gols na vitória por 4x0.
esse era joão coelho neto. o filho do escritor coelho neto e irmão de mano.
(agora com vídeo, na página do sportscenter no site espn.com.br... aqui está o link - assistam, espero que gostem do resultado)
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