domingo, 30 de setembro de 2012

nosso


meus 
teus lábios meus
dos poemeus aqui talvez de deus
ou tão pequenos traços
sonhos pigmeus
os teus, não leve meus os olhos seus
mas pegue os meus 
sonhos teus
daqui o baú completo prometeu fechar-se
usando as grades do amor
mas engano seu
que o céu não sabe quando vai chover
e que o beijo nunca sabe se vai acontecer
que nada ao léu lerei nos lábios teus que meus
troquei por um segundo eterno
as salivas tuas, minhas, 
num breve eu tão terno
e você sorriu aquém
adeus
confessou 
o amor
a quem? ateus
a teus beijos desacreditados

meu bem
também
teu bem
então
somos
teusmeus

vísceras


palavra sangrada
palavra carnívora
canibal dos olhos visionários
defeito líquido que escorre das lágrimas de páginas enfurecidas
livro que bebo
teu corpo quente e inebriante
entorpeço minhas palavras débeis
no teu hálito brilhante
palavra mítica
que sobrevoa a história das águias renovadoras
das águas restauradoras
das mágoas duradouras
palavra sem penas
sem dó
sem dores
palavra adorada
essencialmente masturbadora
gozo em ti
palavra

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

gansos voando



ganso é da família anatidae. é muito apreciado e desejado. quando é domesticado pode ser até um cão de guarda. suas penas servem para flechas. e do seu fígado se faz o famoso foie gras. é requintado, mas provocado ele bate as asas e ataca. ou migra.

paulo henrique é jogador. é produto e promessa.

no mercado, valia 22 milhões de euros. agora vale 15 e 400. no campo, era considerado o melhor 10 da última década... década que ainda não veio. novo dono da dez na seleção, cérebro do meio-campo. machuca, recupera. machuca e não joga. e o salário?? pede mais.
aumenta e não sobe. reclama e leva bronca. pede mais e não dão. torcida na bronca. moedas no chão. vale quanto custa e não custa o que joga. machucado não joga, sem ritmo não dança. um foie gras vale 250 reais o quilo. e ganso vai embora por 23 vírgula nove milhões. de reais.
quanto vale um ganso? quanto custa um passe para o gol, ou a bola na rede?? mais vale um ganso voando do que dois de asas quebradas na mão. dou-lhe uma, dou-lhe duas, vendido !! por 23 milhões e 900 mil reais e uma penhora de "ct meninos da vila".

onde é que eu assino?


*****link da pensata-crônica minha, narrada por andré plihal, que foi ao ar na última quinta-feira, dia 20/09 é só clicar aqui e entrar no vídeo que passou no sportscenter.

eu sou chato e você também é

vamos combinar assim. cada um assume o seu erro. é simples, prático, eficiente, incolor e indolor.
quer dizer, quase indolor.
dói na alma de quem admite o erro, nesse orgulho besta, da gente que precisa assumir em público o "ops, fui eu", my mistake, i'am sorry, i beg your pardon,  excusez-moi, Je suis désolé, eu fiz merda.

é isso.

desde bebês somos assim. a gente brinca com a colher enquanto finge que come a comida da mãe. derruba a colher na frente da mãe. ela olha com olhar de bronca e diz nosso nome em tom de reprovação. a reação é imediata. e por isso mesmo, irracional: não fui eu, mãe!

como não foi?
cinco segundos depois, percebemos a burrice que falamos. assumimos, constrangidos, o erro. mas procuramos desculpas, falhas nos outros, no tempo, na colher que é torta e me enganou, a comida que é sem gosto, ou: não tô cum fome...

a gente cresce e a síndrome do "não fui eu" continua.

a gente pega o ônibus. se aproxima da porta pra descer. dá o sinal. soa o barulhinho do sinal. acende a luz de que a parada foi solicitada. o ônibus ameaça passar reto, mas não passa porque o sinal vermelho ligou. aí o passageiro olha para o cobrador, o cobrador diz para o motorista: vai descer. aí o motorista abre a porta, não sem antes falar, porque ele podia ficar calado mas não fica, e diz: tem que tocar o sinal...

o que falar nessa hora?

a gente aponta para a luz piscando, indicando que o sinal foi dado. o motorista insiste em falar as groselhas dele. aí você se irrita e fala: eu toquei, a luz acendeu, apitou, mas você não viu nem ouviu. e o motorista continua falando. você desce, irritado e não dá mais bola. o motorista segue a vida dele achando que está certo. e você vai embora, achando que o mundo é injusto e as pessoas são insuportáveis.

o cidadão zen-budista diria: relaxe, não se deixe abater por isso. a vida é bela, não se estresse, um motorista de ônibus não vale a úlcera.

eu mandaria esse cidadão zen-budista à merda. depois eu diria: qualquer um vale a úlcera. se eu quisesse ter uma. mas não quero. justo eu que sempre procuro tirar algum ensinamento zen-budista das coisas chatas da vida. e tirei essa: as pessoas têm uma dificuldade monstruosa de assumir as merdas. bastava dizer: o senhor deu o sinal? então me desculpe, eu não ouvi. me desculpe mesmo...

o que eu faria? nada. diria, ok, sem problemas.

o que diria minha vizinha, que fica num determinado andar do meu prédio? (o apelido que eu dou pra ela é dona clotilde)
bom, ela xingaria o motorista (mesmo ele se desculpando), daria um sermão para ele prestar mais atenção, que ele é um mau motorista (conclusão e julgamento a partir de poucos minutos de observação, ela é um gênio)...

a "dona clotilde" é insuportável naturalmente. levou décadas para construir seu currículo de chata. não é algo fácil.
já os motoristas de ônibus, que ganham mixaria, trabalham muito, aguentam donas clotildes e afins, estão no limite do estresse. e por isso também são chatos e insuportáveis.
quando eu estou assim, sou chato e insuportável também. porque todas as pessoas no limite são chatas e insuportáveis.

menos os zen-budistas.


domingo, 9 de setembro de 2012

querências

ela abre os olhos e repete seu mantra:

"pelo dia
a noite fria

pelo menos
a gente soma

pêlos curtos no meu rosto 
pêlos mais grossos nas minhas pernas

mãos dementes
roçando cabelos urgentes

entre apelos 
há pêlos na cama 
de quem perdeu o sol da manhã

ah... deuses bebem o meu café da manhã

pelos olhos teus prevejo meus 'adeuses'
escorridos e vaporizados
nas gotas do suor teu

meu corpo treme
vê-lo indo cada dia um pedaço

sinto em cada maço jogado ao lixo
que um episódio de nós se misturou a nicotina
e o que era bom ficou na mesa
ao lado do último gole de amor caramelado

escapou de mim
o Vermelho do medo e o Negro do desejo
a lembrança de quantas vezes subimos
o Morro dos Ventos Uivantes 
e sussurramos o grito mudo
de quem não quer dizer

e eu não quero dizer
atropelo o que sinto

a imagem que você me deixa
é a da toalha grande com teu cheiro forte
o pão comido pela metade
largado num prato esquecido na pia

imagem tão doméstica de mim
é o que resta pra lembrar
e esquecer e esperar o que virá para amanhã

pelo dia
a noite fria
o teu rosto quase-barba arranha o meu
e todo o sangue inflama deste corpo que é meu e teu"

amem


****é amem mesmo, sem acento, o verbo amar

advérbio


depois do olhar,
o transe.
súbito suspiro insone.

depois de nós, o sós
a descrença:
dúvida e desejo desperdiçados

depois do sol,
depois do início

depois é quando posso,
o quanto faço de nós,
entre o tempo e o espaço.

depois de tudo, repousa em meu peito, o teu braço...

sábado, 8 de setembro de 2012

o cheiro


acima de nós
a lua pelada inspira nossa noite sincera

do lado esquerdo da cama
está o perfume lascivo do sexo

no centro da cama
permanece mudo e secreto
o líquido indecente do amor
já incorporado aos odores dos lençóis

do lado direito de quem ama
os gritos e gemidos
esquecidos por entre os travesseiros

entre eles teu cheiro:
um pranto de fome e de sede
um choro doído cantado e careta
o cheiro do beijo após o coito

teu cheiro é sangue e fixa-se e gruda
escurece e enfeitiça o ermitão da gruta
anoitece a muda falácia dos verbos tímidos
escuta e aguça o desejo de falar

teu cheiro foge do pejo do dia
odor que promete e que cumpre
teu cheiro sempre faz o mesmo pedido:
devora-me ou te decifro

e eu devoro cada vapor invísivel
cada átomo suspenso dessa alma

dessa alma que flutua livre 
em odores e dores de amor nu diante da lua

ó do mundo


o rato morto conversa com as luzes da noite
o açoite rasga o coração do velho verso da rua

e a lua?

o sol aprendeu a sorrir
porque ir e vir é um desafio
um fio que desenrola o destino da gente
semente que dá e tira
floresce dela também a ira - crua
cruz de tanta gente

e a lua?

um silvo de pássaros à capela
denuncia a solidão afro do céu
enquanto no asfalto groove
cidadãos vivendo numa garrafa
à espera da próxima onda

o ó do mundo que ri de si
e a lua?

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

imperativo

vem ver o que acontece lá fora
nasce a manhã 
nasce o homem, a dor, a aurora

vem ver o que padece lá, agora
o amor, o louvor, 
cinicamente fora de hora
vem ver

mas não esqueças tu, 
esquece tu, tudo
de trazer o guarda-chuva
pra guardar a chuva, claro, 
e prender o ódio ao raro
ao extravagantemente caro

vem tu
venha você
mas para ver o que entontece cá, 
aflora,
toda marca presa aos ventos de outrora

claro, puro, dolorido, mas vem

vê tu
se apetece o chá de amora
sem amor, só com ah!

acredito que virás atenta
mas vem pronta
que o mundo amortece mas não espera
vem ver o que nos embrutece feito pá 
cortando fora toda a flora juvenil
mas vem
vale a pena ver o que tece, já, 
todo sorriso em reparo... 

ora! então?
ninguém quer uma prece, 
nem saber onde a dúvida mora
porque o dia suicida-se

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

revelado


revelar o avesso de mim
o começo, o fim, tudo no mesmo corpo
vibração de opostos
tudo no mesmo espaço
dois olhares, duas faces
a unidade: dois
o gozo dos antônimos

única e essencial palavra,
 pura, eleva-se numa gota salgada
face dupla, cara e coroa
tudo no mesmo esperma
no mesmo germe
comunhão no ventre da alma
tudo no mesmo lugar ao mesmo tempo

agora
o outro de mim revela meu início
a estrada e o fim
tudo no mesmo poema
linguagem sagrada,
o que sempre soube
e já amava sem perceber
tudo no mesmo silêncio
solidão de quem sabe das próprias contradições

(em parceria atemporal com ana paula cordeiro)

restos de apartheid (reportagem completa)

no dia seguinte, os policiais ainda cercavam a mina de platina marikana, no noroeste da áfrica do sul. os conflitos contra grevistas provocaram, além dos 34 mortos, mais 78 feridos. a região fica a 100 km de johannesburgo.
a própria polícia disse que tentou dispersar os grevistas mas não teve êxito. e que os agentes atiraram em sua própria defesa.
três mil mineiros estavam armados com paus e facões em uma colina próxima da mina da empresa lonmin, que tem sede em londres. o conflito teve saldo de 259 detidos. a mais sangrenta operação de segurança desde o fim do apartheid foi um duro golpe emocional para a sociedade sul-africana. os cidadãos e a imprensa puseram em dúvida as mudanças do período 
pós-apartheid. era o dia 16 de agosto de 2012.

as manchetes dos jornais locais no dia seguinte chamaram de matança e de campo de morte. as imagens mostravam policiais brancos e negros armados, caminhando com indiferença por entre os corpos.

as imagens, segundo a imprensa, trouxeram à memória o passado racista na áfrica do sul. uma emissora de rádio local vinculou o incidente com a matança de sharpeville em 1960, quando a polícia do apartheid abriu fogo sobre uma multidão de manifestantes negros e matou mais de 50. 

as manifestações em marikana continuaram nos dias seguintes. mas com as mulheres dos mineiros. os grevistas continuaram sua greve, enquanto os policiais insistiam que apenas tinham se defendido, porque, afinal, os mineiros usavam armas brancas. mas houve outro reflexo do massacre. a lei sul-africana determina que todas as pessoas detidas em um lugar, onde houve um tiroteio envolvendo policiais, têm de ser indiciadas por assassinato, independentemente de as vítimas serem agentes ou não.

a acusação recai sobre 270 mineiros. os 259 detidos no dia 16 de agosto, mais os feridos que foram presos ao sair do hospital. o juiz marcou a próxima audiência para esta quinta-feira, 6 de setembro. e até esta data os detidos continuaram presos. especialistas jurídicos questionaram a lei. eles entendem que não se pode usar a doutrina da intenção comum para culpar os mineiros pela morte dos colegas.
colegas que foram mortos pela polícia. 
detalhe importante: nenhum dos policiais que matou os mineiros estava preso.

interpretem a lei como quiserem. você, leitor. use sua imaginação. pense nas várias possibilidades em que você, um policial branco, poderia matar negros (eles armados ou não), e ainda culpá-los pelas mortes... pense nisso...

a greve de marikana não era autorizada. mas isso pouco importa. antes dos 34 mortos no massacre, dez homens - dois policiais e dois guardas - morreram nos enfrentamentos entre sindicatos entre os dias 10 e 12 de agosto.

o presidente zuma chegou a dizer que existe espaço na democracia sul-africana para resolver qualquer disputa com diálogo, sem violência e sem descumprir a lei. mas a opinião pública está preocupado mesmo é com os  resquícios de comportamento racista na polícia. mesmo com integrantes negros em seu grupo. 
é o tal costume de resolver conflitos na porrada, ou na base dos tiros. aí não importa se o policial também é negro. ele está dentro do sistema sujo, que não é de contenção, mas de execução.

os mineiros fizeram greve por aumentos salariais, mas a raiz do conflito está na rivalidade entre dois sindicatos: a associação de mineiros e trabalhadores da construção é um sindicato novo, que representa a maioria dos mineiros em greve. e é visto como uma ameaça ao domínio de 25 anos do sindicato nacional de mineiros da áfrica do sul, ligado ao partido que governa a áfrica do sul desde 94.  
os mineiros e suas famílias protestam diariamente pelo massacre dos 34 trabalhadores. alheia a isso, a empresa lonmin, que é a terceira maior produtora mundial de platina, pressiona os outros 25 mil trabalhadores para que voltem ao trabalho. a mineradora garantiu que todos teriam segurança.

há o temor de que o massacre de cinco dias se repita. por isso muitos não querem voltar. por outro lado, o governo sul-africano pediu aos donos da empresa de marikana que suspendessem o prazo estabelecido para o regresso ao trabalho dos mineiros. esse prazo acabou uma semana depois do massacre. um quarto dos funcionários voltou. 

momentos depois, marc munroe, vice-presidente da lonmin, assegurou que despedir os grevistas não vai melhorar a situação. a empresa entende que colocar datas limites e ultimatos não vão contribuir para um ambiente estável. mas ao mesmo tempo afirmou que haverá consequências para quem não for trabalhar. (alô, alguém está ligando para o massacre?)

o presidente jacob zuma se envolveu pessoalmente na história. ele pediu a suspensão do ultimato até que estejam identificadas e enterradas todas as vítimas do massacre. 

os líderes do protesto decidiram continuar com a greve até que conseguissem a melhora salarial que pretendem. 12.500 rands, ou 1.500 euros. eles receberam apoio de chefes tribais da região, políticos da oposição e organizações da sociedade civil. ao mesmo tempo, o presidente jacob zuma prometeu que as mortes dos mineiros serão investigadas. doa a quem doer.

difícil acreditar que vá doer em todos os lados. mesmo vendo representantes do governo descendo e subindo as escadas, e fazendo reuniões para negociar o fim de uma greve que está emperrando a economia do país. a alta comissária de lesoto para a áfrica do sul, dineo ntoane, disse que o governo tenta agradar os mineiros para que voltem ao trabalho. essa é a prioridade: voltar ao trabalho. se não voltarem, podem perder seus empregos, falou dineo.

zolisa bodlani, representante dos mineiros, disse que a empresa não está disposta a prosseguir negociando. por isso o governo sul-africano entrou com mais determinação na história. para evitar um problema maior.

o analista de mercado, loane, sharp, disse que a greve em lomin custou milhões de dólares ao país. segundo ele, há perdas da produção de platina a cada semana. ele também criticou a ação dos sindicatos e falou que os mineiros têm uma atitude muito violenta. loane sharp é branco. não sei se isso faz alguma diferença.

mas, violentos ou não, os confrontos dos mineiros de lonmim com a polícia deixaram 34 vítimas. o mundo criticou a ação policial e a considerou como um resquício da época do apartheid. alguns mineiros carregavam facões e gritavam contra as autoridades, mas nenhum funcionário usava arma de fogo.
os agentes afirmaram ter se defendido. essa história todos sabem. mas vou continuar repetindo.

os trabalhadores querem triplicar o salário, que atualmente é de 486 dólares. o grupo lonmin diz que paga 900. há seis meses a produção de platina vive sob forte tensão. culpa da crise mundial, principalmente no setor de automóveis.

um relatório da comissão nomeada para o caso das mortes deverá ser entregue ao presidente sul-africano, jacob zuma, até janeiro. a comissão quer responder algumas perguntas: por que os mineiros levaram armas (facões, principalmente) para a mina, e por que dois policiais foram brutalmente assassinados, e por que a polícia teve de usar balas reais?

a comissão diz que quer chegar a raiz do problema. mas para isso precisa entender os personagens desse conflito. especialmente os mineiros. eles são muito pobres. são facilmente levados a violência, ao mesmo tempo em que são facilmente acalmados, quando as pessoas tentam conversar dignamente com eles, explicando honestamente o que está acontecendo. como se fossem crianças, que reagem quando são encurraladas, mas são capazes de obedecer, quando convencidas.

nesta quinta-feira, 6 de setembro, mineiros grevistas de marikana marcharam até outra mina próxima. gritaram para que os trabalhadores parassem o serviço. e ameaçaram queimar tudo com quem estivesse dentro se não fossem atendidos. ameaçaram matar diretores da lonmim. dois clérigos chegaram ao local, pediram calma. reuniram representantes dos grevistas e conseguiram uma audiência com a empresa. apenas pediram que ficassem sentados, quietos, esperando pelo resultado da conversa. e assim eles fizeram. comportamento estranho de quem ameaçou botar fogo em tudo minutos antes. os grevistas dizem que governo e empresa tentam 
convencê-los a assinar um acordo de paz. eles não querem acordo de paz, querem aumento de salário.

a marcha se dissipou logo depois e todos voltaram para casa. 

em 2013, zuma vai tentar a reeleição. o assunto do massacre de marikana não será bem digerido pelo eleitorado se não for resolvido de forma justa. o que houve lá, está se espalhando em outras minas pelo país. numa jazida de ouro em joanesburgo, quatro pessoas foram mortas no fim de agosto. nesse caso a polícia usou balas de borracha e gás lacrimogêneo. 

mas o que houve em marikana? uma simples vingança policial pela morte dos colegas, dias antes do massacre?  

após o fim do apartheid, grande parte da população esperava que as riquezas minerais do país fossem postas a serviço do povo. muitos sul-africanos consideram que o presidente e seu partido protegem os interesses das grandes companhias e de seus próprios sindicatos. os membros dos sindicatos ligados ao partido governista recebem salários maiores do que seus colegas de oposição.

para alguns analistas, a agitação social pode ser o sinal de algo maior. o início de uma "primavera mineira". a questão salarial pode levar a uma desobediência civil generalizada, com inúmeras ações de protesto. opinião de tony healy, especialista na lei do trabalho sul-africana.

nenhum dos lados ainda sabe lidar com a liberdade de protestar por seus direitos. isso leva tempo. nem o brasil, muito menos violento do que a áfrica do sul, não aprendeu completamente. não sabemos negociar. no brasil a greve é o primeiro recurso, não o último.

na áfrica do sul, o problema do massacre dos mineiros só revela a existência de outros. alguns muito profundos, dolorosos, cujas cicatrizes permanecem abertas... 
e sangrando.

(por fábio de amorim)

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

silencioso

Hoje à noite
quando chegar em casa,
vou pegar meu violão.
arranharei as cordas,
como fiz em teu coração.

Vou depravar o som,
como fiz naquele dia insano.

Meus planos são de imortalizar o tempo.

Inaudível, o silêncio me tortura.
Vou comer as palavras no jantar
depois vou cantar Roberto Carlos,
pra aliviar o Romantismo que nasce agora em mim.

Mas eu não fujo, eu não fujo, não!
hoje à noite
vou ouvir meus lamentos, teses, doutrinas
ao lado de Tim Maia.

mas eu não posso me esquecer: 
jamais analisar!
No, no analices, Mercedes Sosa e Nana Caimmy,
no analices.
ah, aquele vinho no chão
é teu sangue 
ou o sussurro do coração?

ah, esse tempo seco...
tanta contradição
que a tragou? 
foi a solidão 

pronto




quando queira, me dizer, tudo o que deixaste atrás

estarei pronto a recebê-la

envolvê-la, e dizer-lhe, meu bem

quando queira, tocarei tuas mãos

como quem toca primeira vez

como respirar fosse tudo e nada

terça-feira, 4 de setembro de 2012

crime do facebook


um crime chocante na holanda. por sua frieza e juventude. um garoto holandês de 15 anos é condenado a um ano de detenção num reformatório. o motivo: ele foi contratado para matar winsie, de 15 anos. o jovem tinha 14 anos na época do crime. identificado como jinhua k., ele foi condenado pela morte de joyce winsey hau. um casal de namorados também adolescente, pediu pelo crime.

o jovem casal e winsey trocaram ofensas pelo facebook durante meses. polly w. de 16 anos, e wesley c. de 18, estavam furiosos com joyce. as duas meninas, polly e winsey, eram amigas, até a mais nova publicar comentários sobre o comportamento sexual da outra.
a acusação diz que o casal decidiu contratar o menor jinhua k., na época com 14 anos, para matar a amiga. o pagamento teria sido de menos de 100 euros, ou 250 reais. o crime aconteceu na cidade holandesa de arnhem o garoto foi a casa de joyce winsey no dia 14 de janeiro.  apunhalou a adolescente, que foi hospitalizada, mas morreu dias depois. seu pai, chun nam hau, ficou ferido no ataque ao tentar defender a filha.

a pena de um ano foi pedida pela acusação. e é a máxima permitida pela lei para um garoto de até 16 anos. o menino não conhecia a vítima. ele recebeu instruções do casal de namorados após trocar mensagens na rede.

os julgamentos na holanda envolvendo menores costumam ocorrer a portas fechadas. mas este aconteceu publicamente. os juízes argumentaram que era de interesse da sociedade conhecer os detalhes do caso.

mas o julgamento de polly não será público por causa de relatórios apresentados por um psicólogo e um psiquiatra. o casal ainda será julgado em outubro.
conhecido na holanda como assassinato do facebook, o tema chocou o país sobre os limites de uso das mídias sociais pelos adolescentes. e o papel da internet em crimes violentos.

não consigo imaginar uma discussão sobre tais limites. e não vejo isso como o ponto a ser discutido. o foco é outro. por que adolescentes planejariam a morte de uma amiga de quem não gostam? por que pagariam para outro adolescente fazer isso? onde está o discernimento de que matar é errado? estamos falando de um país como holanda, não de outro, pobre, que vive em guerra civil, onde jovens estão acostumados a empunhar armas. falo do país dos loiros desenvolvidos. o que acontece lá? o que acontece aqui?

ok, perguntas não ajudam. mas eu não tenho respostas. só perguntas. jovens, crianças, são cruéis. às vezes resolvem na porrada. se estiverem numa festa, e alguém tiver uma arma, pode ser que alguém se machuque. mas quando planejamos, há um toque de frieza, de raciocínio. há uma desumanidade nisso. não existe a paixão fulminante do crime de momento, da ira rápida e feroz, por isso mesmo chamado de crime passional.

esse tipo de crime do facebook é diferente. eles tiveram tempo de esfriar a cabeça. podiam ter saído do facebook. podiam ter reclamado com o pai da garota. podia ter ignorado a menina para o resto da vida. e o rapaz que aceitou o crime encomendado?

uma das juízas, jennifer nicholson, contou que o garoto holandês cometeu dois crimes. ele matou a menina de 15 anos e tentou matar o pai de winsey. jinhua k. disse ter sofrido forte pressão do casal de namorados. (forte pressão? por que não os denunciou a polícia ?)

também disse à polícia que não conseguiu se negar a praticar o crime. especialistas apontaram que ele sofre de problemas de comportamento com tendências psicopatas. e precisa ser especialista pra ver isso?

“não estou feliz com a pena de um ano pela vida da minha filha”, disse o pai da vítima. “mas é isso o que diz a lei”.

quando eu era criança, eu fugia da morte. hoje, as crianças procuram-na.

as ilhas de três nomes (reportagem)


a china entrou de vez na discussão sobre as ilhas da discórdia, entre japão e coreia do sul. pequim pediu que americanos não se envolvessem. mas hilary clinton afirmou que o pacífico é grande o suficiente para todos.
ninguém pode chegar perto daquelas ilhas de três nomes. esse é o ponto. mesmo estando sob administração japonesa, sul-coreanos e chineses se ofendem quando um japonês pisa no território que está em disputa pelos três países. 

na recente missão de pesquisa de um grupo nacionalista do japão às ilhas, a china protestou. chamou o ato de ilegal. hong lei, porta-voz das relações exteriores, disse que a china apresentou um protesto formal contra o japão.
“as ilhas diaoyu foram território nosso desde tempos antigos”, falou hong lei.

“a china tem soberania indiscutível sobre o arquipélago. qualquer ação tomada pelo japão é ilegal”, completou o porta-voz.
pequim aproveitou para avisar os estados unidos que não se metessem nessa disputa.
a ira chinesa foi despertada quando uma equipe do governo de tóquio começou a inspecionar as ilhas senkaku, como os japoneses chamam. os 25 membros da equipe chegaram ao território e começaram a estudar a qualidade de água ao redor de três das oito ilhotas.

as autoridades municipais de tóquio tinham pedido ao governo federal permissão para desembarcar nas ilhas, mas o pedido foi rejeitado. justamente por medo de criar atritos com a china.
a inspeção é voltada para determinar qual seria o preço apropriado de compra dessas terras e seu possível uso no futuro. as senkaku, ou diaoyu, ou dokdo (para os sul-coreanos), ficam no mar da china oriental. elas estão a cerca de 150 km ao nordeste de taiwan, e 200 km a oeste de okinawa. sua superfície é de 7 km quadrados. acredita-se que o arquipélago, que é desabitado, tenha grandes recursos marítimos e energéticos. é claro. caso contrário, qual seria o grande interesse por essas ilhas...
a secretária de estado americana, hillary clinton, não resistiu e comentou sobre a disputa das ilhas. ela espera que a china aja de forma justa e transparente.

hillary falou que os estados unidos querem jogar um papel positivo em questões de segurança e navegação. “queremos contribuir para o desenvolvimento sustentável para o povo do pacífico”, disse a secretária americana.

segundo hillary, o papel da casa branca não é influenciar ou buscar o domínio na região. “estamos aqui para trabalhar com outros países. afinal, o pacífico é suficientemente grande para todos nós”.
sei... os americanos sempre jogando “war”.