acima
de nós
a lua
pelada inspira nossa noite sincera
do lado
esquerdo da cama
está o
perfume lascivo do sexo
no
centro da cama
permanece
mudo e secreto
o
líquido indecente do amor
já
incorporado aos odores dos lençóis
do lado
direito de quem ama
os
gritos e gemidos
esquecidos
por entre os travesseiros
entre
eles teu
cheiro:
um
pranto de fome e de sede
um
choro doído cantado e careta
o
cheiro do beijo após o coito
teu
cheiro é sangue e fixa-se e gruda
escurece
e enfeitiça o ermitão da gruta
anoitece
a muda falácia dos verbos tímidos
escuta
e aguça o desejo de falar
teu
cheiro foge do pejo do dia
odor
que promete e que cumpre
teu
cheiro sempre faz o mesmo pedido:
devora-me
ou te decifro
e eu
devoro cada vapor invísivel
cada
átomo suspenso dessa alma
dessa
alma que flutua livre
em odores e dores de amor nu diante da lua
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