quinta-feira, 17 de maio de 2012

a acidez humana


jogar ácido em mulheres é uma ocorrência comum, por exemplo, no paquistão. mas houve um aumento no número de homens atacados da mesma forma no país. ainda não se sabe se é um tipo de reação feminina a isso. o fato é que 1500 pessoas sofrem ataques com ácido, por ano, em 20 países. e 80% são mulheres.
            
coincidentemente, o aumento de ataques contra homens começou depois do caso de suicídio recente da paquistanesa de 33 anos, fakhra younus.
há 12 anos, fakhra dormia, quando alguém derramou ácido em seu rosto. o acusado era seu ex-marido bilal khar, filho de um governador rico do paquistão. khar foi preso em 2002.

cinco meses depois, saiu sob fiança. em 2003 foi absolvido das acusações, por falta de provas. bilal sempre disse que ele não tinha feito aquilo com fakhra. em entrevista para a televisão, khar afirmou que um homem diferente, com o mesmo nome dele tinha entrado em sua casa e realizado o crime.
fakhra escreveu que não tinha mais um olhar humano, mesmo depois de 39 cirurgias. e que cometeria suicídio por causa do silêncio da lei sobre as atrocidades e da insensibilidade dos governantes paquistaneses. 
ela se jogou de um prédio em 17 de março passado.

khar afirmou que sua ex-mulher se matou apenas porque não tinha dinheiro suficiente, e não por causa dos ferimentos que sofreu.
só no paquistão, mais de oito mil e 500 ataques com ácido, além de outras formas de violência, foram relatadas, de acordo com a fundação aurat, uma organização de direitos das mulheres.

 depois da história da morte de fakhra, houve um aumento no número de ataques a homens. mohammad noman é uma das vítimas da vitriolagem. este é o nome que se dá ao ato de jogar ácido nas pessoas, com o objetivo de desfigurá-las.

noman se recusou a dar o divórcio a sua mulher. um dia, ele atendeu a porta. era ela. eu tenho algo para você, por favor, me perdoe, disse. 
ele se virou para ver. então, ela atirou ácido em seu rosto. os homens não costumam dar divórcio nessas regiões da ásia muçulmana e hindu.
ainda convivo com a dor do ácido, disse noman. mas o meu coração dói ainda mais. eu a amava. e ela me deu isso em troca.

 uzma noorami, da comissão de direitos humanos do paquistão, condenou a recente onda de vitriolagem contra homens, mas disse que a maioria dos casos ainda é contra mulheres. os maridos atacam as esposas por causa da estrutura de poder que existe na sociedade. elas são tratadas como mercadoria, disse uzma.
o governo paquistanês introduziu novas leis em 2011, criminalizando os ataques com ácido. quem for condenado poderá ficar até 14 anos de prisão.

mas não é só o paquistão. 
camboja, afeganistão, bangladesh, índia e outros países vizinhos têm os mesmos problemas e o mesmo sistema patriarcal ao extremo em suas sociedades. mulheres são objetos. não é preciso ir muito longe, para lembrar que no irã, mulheres estupradas invariavelmente são consideradas culpadas pelo crime que sofreram. e os homens raramente são punidos por isso. 

mas no caso do paquistão, os homens estão sendo atacados agora. e talvez por isso, é provável que as mudanças nas leis aconteçam mais depressa, e talvez sejam mais profundas. 
tão ou mais profundas quanto as marcas deixadas na alma das vítimas. 



Um comentário:

  1. Ideologia é algo bem difícil a se discutir, ainda mais quando agregamos alguns assuntos polêmicos dentro dela. Acho que acima de qualquer religião, crença, sociedade e até mesmo a própria ideologia, as pessoas têm que perceber e que fazer florescer o amor próprio - e acho que, partindo disso, uma mudança pode sim começar.
    Primeiro, acho que devemos quebrar os paradigmas que a sociedade e as mentes mais poderosas, aquelas que detêm o poder - mas quem são as pessoas para impor coisas na vida das outras? Tudo é tão relativo ao meu ver - nos empregam; e, segundo e então, viver a vida da maneira que realmente nos deixa feliz. Mas esse "nos" não é coletivo, porque cada um é cada um, é só uma maneira de expressar [agora sim] coletivamente a felicidade individual e relativa de cada um.
    Bem, pensando na acidez humana, sou muito a favor das teorias feministas e desse contraponto fomentado ao mundo ainda muito machista em qual vivemos. O ser humano é ser humano e sente dor independente do seu sexo, cor, crença etc - como já disse Al Pacino ao interpretar "O Mercador de Veneza". Concomitante, acredito muito na Lei do Universo, o que vai também volta, e talvez agora seja a hora dos homens terem de volta tudo aquilo que plantaram.

    ;)

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