uma cidade vibrante, vulcânica. que se renova, que se
atrasa por causa do trânsito e da chuva. uma são paulo voraz, devoradora de
culturas, como os antropofágicos modernistas, paulistas, já diziam em 22, como
os índios faziam muito antes. uma cidade de luzes, sol sob nuvens cinzas e pernas
apressadas. são paulo, se fosse uma pessoa, seria sonâmbula e sonhadora. são
paulo dorme tarde, acorda cedo, ou na verdade nunca dorme.
os milhões de pés
caminham pela selva de pedra entre animais domesticados ou não. pessoas sem
tempo para dizer bom dia, mas com espaço para reclamar do clima, dos buracos, e
da falta de tempo pra dizer bom dia.
paulistanos, paulistas, brasileiros, estrangeiros sem
tempo para ver. às vezes olham, mas não veem a história escrita nas esculturas,
nos memoriais da américa latina.
reclamam do excesso de asfalto, da falta de grama, e não
caminham pelo tapete verde natural do ibirapuera, com a mesma frequência com
que disputam quem será mais rápido para atravessar a avenida paulista.
mais populosa do estado. do brasil. mais gente
na cidade de são paulo do que em qualquer outra do continente americano. do
hemisfério sul. sexta maior cidade do globo.
décima-quarta mais globalizada do planeta. décimo maior
pib do mundo. sua região metropolitana tem a quarta maior concentração de
pessoas da terra, com mais de 20 milhões.
a cidade tem onze milhões.
números, números e mais números. são paulo são dados,
estatísticas, quantidades, pesos e medidas. força industrial, máquina, motor e
relógio. perder tempo em são paulo é pior do que esbarrar em alguém e não pedir
desculpas.
são paulo vê o futuro mas também despreza o passado. não
por desdém, mas por falta de tempo de admirar.
o dia vira noite e vira dia num piscar de olhos.
mas quando o paulistano vê sua terra, do alto das alturas
dos edifícios mais altos, ele se assusta com tanto tamanho. tanta grandeza.
e a beleza que raramente vê na cidade, ele passa a
perceber sem querer.
olha o céu e o chão e já não pensa mais em números. apenas busca por respostas - dentro do seu coração apressado pela falta de
tempo.
algo que lhe diga o que ele sempre soube.
que essa coisa de nunca dormir é conversa. são paulo, na
verdade, está debaixo de sonhos. o sonho de ser dono do tempo.
há 459 anos.
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