terça-feira, 5 de junho de 2012

graça


As crianças nas praças me abraçam com seus braços de avelã 

Com seus corpos cheirando manhã sobre manhã 
As crianças das praças me arrastam para suas vidas de cimento 
Escorrendo com a chuva suja pelas esquinas irônicas do cinza dia 
As crianças e as praças são a memória do que é e do que foi 
são as histórias do avesso desses dias que não são as cores 
desses dias que esquecemos e fazemos 
cada dia ser outro dia tão depressa tão vazio 
quanto mais vazio mais depressa passa o dia 
mais angústia perfuma nossa mente 
(Toda manhã pulam das janelas e recitam ódios e trovões 
e rezam com as duas palmas abertas 
uma na cabeça coçando 
outra espalmada pro céu 
Então o tempo é uma piada sem graça e o espaço é tudo ou nada 
E assim a criança-praça passa a cantar e sorrir 
Como se sua desgraça fosse má sorte 
Má vida má sina malvada malhada manchada marcada má) 

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